3 de agosto de 2007

Skywave e Singapore Sling

Aproveitando o oba-oba criado pela volta do Jesus And Mary Chain, indicarei duas bandas que fazem um som que pode, enfim, garantir paz aos seguidores de Jesus, ávidos por um disco novo dos irmãos Reid.


Atenção ao som propagado pelos americanos do
Skywave e pelos islandeses do Singapore Sling, fiéis seguidores do Jesus And Mary Chain e do estilo musical dos que tocam suas guitarras olhando para o sapato. Skywave e Singapore Sling não trazem nada de novo, parecem ter vindo direto da década de 90 com suas guitarras gritantes e seus tímidos vocais, e é essa uma das características principais de todo fiel seguidor de um estilo musical - o que menos importa são novidades.


O bacana é que as duas bandas diferem bastante uma da outra, ambas decidiram percorrer caminhos diferentes. Enquanto o Singapore Sling anda acompanhado da pscicodelia dos anos 60 e carrega junto consigo o som mais dançante do Jesus And Mary Chain, o Skywave caminha a passos firmes sobre as distorções, tendo as músicas mais perturbadoras do Psychocandy cravadas nas costas.

Claro que é possível perceber outras influências, e o mais correto seria escrever aqui quais seriam as outras bandas influentes. Mas como o oba-oba é sobre a volta do Jesus, acredito que citá-los apenas é mais do que o suficiente.

E que o som do Skywave e do Singapore Sling seja também o suficiente para fazer os orfãos de Jesus And Mary Chain não se sentirem tão desamparados. Eu, como orfão, já recebi estes pais adotivos de braços abertos.

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Singapore Sling no myspace
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tocando
Listen ao vivo


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Skywave no myspace
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o clip de
Got That Feeling

16 de julho de 2007

Só Jesus Salva

A crise existencial que continua a assombrar este blog precisa chegar a um fim. Se a reza para São Jorge não está dando certo, que seja através da música. Existe algo melhor que a volta de uma das melhores bandas que já peregrinaram no solo desse planeta para ressuscitar os seguidores deste desgraçado maldito chamado rock'n'roll?


Já há algum tempo os irmãos Reid não estavam mais aguentando ler e ouvir a respeito das inúmeras semelhanças de algumas bandas atuais com o som do The Jesus And Mary Chain. Deixando de lado as mágoas passadas, William ligou para o irmão: "Jim, vamos deixar estas novas bandas andarem impunemente pelo planeta?", disse um revoltado William. "Nem fodendo! Já escutou Black Rebel Motorcycle Club? É chato pra caralho.", respondeu um igualmente revoltado Jim. "Vamos voltar com o Jesus!", decidiram os dois.

Não que eles tenham algo contra o BRMC ou as bandas atuais. Mas eu consigo entender a revolta dos irmãos quando vejo bandas tão boas como a islandesa Singapore Sling e a americana Skywave - duas bandas que assimilaram muito bem a barulheira e a perturbação e o pop de Psychocandy - continuar na escuridão para a maioria dos mortais, enquanto muitas bandas chatas recebem toda a glória e aleluia.

Aliás, Singapore Sling e Skywave merecem um tópico exclusivo - sinto que preciso dar minha pequena parcela de ajuda, como fiel escudeiro e seguidor do som de Jesus, divulgando estas bandas.

A última vez que se ouviu um som inédito do Jesus And Mary Chain foi em 1998, com Munki, o último disco de estúdio da banda. E foi neste mesmo ano que os irmãos Reid resolveram terminar com tudo, depois de um show que durou apenas alguns minutos: William retirou-se do palco enquanto a enorme quantidade de álcool nas veias de Jim impedia-o de ficar em pé.
Nove anos depois, encontramos os Reid juntos no mesmo palco, sóbrios, fazendo uma turnê pela Europa após o fabuloso show de volta que eles fizeram no mega festival Coachella, na Califórnia, sobre os céus de abril deste ano.

Enquanto eles excursionam, fico aqui escutando os discos antigos e rezando para que um ótimo disco de inéditas chegue ainda este ano. E, de joelhos no milho, rezo para um Santo milagreiro trazer Jesus em solo brasileiro e, assim como numa missão divina e reveladora, que ele possa converter o restante de vocês, pecadores.

6 de abril de 2007

Paixão em 33 1/3 rotações


Did I listen to pop music because I was miserable? Or was I miserable because I listen to pop music?
Rob Gordon -Alta Fidelidade



Sexta-feira Santa. Dia em que teoricamente se poderia estar viajando, para aproveitar o feriado prolongado e sem sol, ou se jogar no bacalhau com vinho- tradicional do almoço de família nessa data- eu fico em casa, ouvindo Jesus and Mary Chain, em vinil!


Não sei se é nostalgia ou sensação de idade chegando já que inaugurei a versão 2.8 há uma semana,mas há alguns dias retomei um prazer que tinha jogado na gaveta e largado esquecido por lá: ouvir música....em vinil. Há muito tinha me esquecido como era legal pegar um disco olhar a capa, puxar o encarte - muitas vezes meio tosquinho - que tem um tamanho interessante, às vezes fotos da banda, as letras meio espremidas naquele espaço grande, mas não o suficente para abrigar muitas letras.


Ok, em encartes de CD também vemos coisas parecidas só que com proporção diferente. E os CDs, hoje em dia, não são mais restritos àquela mesmice da capa plástica, é comum pegarmos projetos muito bacanas como With Teeth do NIN e todos os discos do Pearl Jam desde Vitology. Mas o chiado do vinil em contato com a agulha é impagável! Podem me chamar de chata, tradicionalista, antiga...


Mas quem nunca teve a felicidade de colocar um bolachão no toca discos está renegando a uma parte importantíssima da música e das variações de formas em que a música era colocada a disposição para seus amantes.


Passei minha adolescência ouvindo bolachões e na vitrolinha rolava muito rock brasileiro, passando por umas aberrações internacionais que me recuso a confessar, no momento - quem me conhece sabe desse podre vergonhoso pelo qual muitos já passaram. Mas as coisas boas eu posso dizer: a discografia da Legião Urbana, Psicoacústica do Ira eram os mais freqüentes...


Sei lá, estou me sentindo o Rob Gordon de Alta Fidelidade, com muito menos discos de vinil e sem fazer o top 5 dos pés na bunda mais doloridos da vida. Estou me sentindo ele porque para aquele personagem, criado por Nick Hornby, a música era mais uma forma de remontar os momentos de sua vida do que diversão ou passatempo.


Que fique bem claro: tenho muitos MP3 no computador, sou a favor dos MP3 player e mais ainda dos downloads até porque não rola mais comprar CDs como antes e até os vinis, considerados peça de museu para muitos, estão bem caros dependendo do título e de onde se procura. Tenho CDs e adoro a praticidade deles. Mas...- sempre há essa conjunção adversativa em tudo na vida- tirar aquele objeto redondo, 31 cm, geralmente preto, da capa e do plástico e ouvi-lo em 33 1/3 rotações é...simplesmente, delicioso!


Por falar nisso, vou voltar ao Psicocandy, vinil, 1986! Boa páscoa, bom vinho ou boa viagem para todos, até!

5 de março de 2007

Iñárritu, un hombre que me hace llorar

Primeiro foi Amores Brutos (Amores Perros,2000) que me causou impacto com a força de suas histórias que questionam valores, a perda de referência e de esperança. Tudo isso com a edição marcante pela pouca linearidade e o roteiro de Guillermo Arriaga. Estava ali se consolidando o meu amor pelo cinema latino.
Depois, levada ao cinema, principalmente, para ver as quase sempre excelentes interpretações de Sean Penn, Benicio del Toro e Naomi Wats em 21 Gramas (21 Grams, 2003) tive um déjà vu: já tinha visto algo parecido antes.E... bingo! Era mais um filme do mexicano Alejandro González Iñárritu.
Diferentemente das duas primeiras vezes, fui ver Babel (2006), mais novo filme do diretor, consciente de que o que me esperavam eram histórias fortes, questionamentos e situações que mostram o que sabemos e sentimos: coisas realmente importantes sempre acabam sendo violentadas por egoísmo, questões políticas e hipocrisia.
Tudo isso foi encontrado nessa película, mas seu grande ingrediente é a dificuldade de comunicação muito bem representada pela quantidade de idiomas falada pelos personagens espalhados por quatro locais do mundo: EUA, Marrocos, Japão e México.
As duas horas de filme nos mostra a viagem de um casal americano ao Marrocos - na tentativa de superar um trauma recente- onde a mulher é baleada por um menino marroquino durante o teste de um rifle comprado por seu pai. Nos EUA, uma afetuosa governanta mexicana cuida dos filhos do casal americano enquanto procura por alguém que cuide das crianças para que ela pudesse ir ao casamento de seu filho,no México. No Japão, uma garota surda-muda lida com o relacionamento distante com seu pai, a ânsia por afeto e o vazio deixado pelo suicídio da mãe - confesso que foi minha história preferida.
Mal estar, reflexão, dor no coração e inconformismo em relação a como as pessoas se tornam joguetes de um destino cruel, geralmente controlado por regras elaboradas por outros homens que as aplicam equivocadamente ao sobreporem o poder de leis cegas sobre a importancia de vidas humanas.
Muitos cineatas já me arrancaram lágrimas motivadas por ternura, emoção, beleza, crueldade, tristeza e tantos outros sentimentos, mas nenhum tinha conseguido me fazer chorar em três filmes seguidos. Contrariando a alegria que, para muitos, pode ser uma marca dos latinos Iñárritu faz filmes amargos, de certa forma melodramáticos, mas nunca banais ou desnecessários. Pelo menos por enquanto.

16 de fevereiro de 2007

Salve, Chico Science, salve!

Antes que a ferrugem mental, primeiro pela falta de tempo e depois pelo excesso de ócio, oxide totalmente minhas idéias mando uma postagem homenagem. Em breve, meu cérebro deve voltar em versão mais atualizada. Enquanto isso, bora lá!
Parece que foi ontem, a noite, em que ouvi pelo rádio que um acidente de carro havia levado embora para sempre o mestre Chico Science. E nisso já se vão 10 anos, completados no último dia 2 de fevereiro.
Confesso que o mangue beat não me conquistou de primeira. Fui assimilando aquela onda aos poucos e, talvez, só hoje eu tenha a real noção da importância daquele som cheio de referências de música brasileira - em especial o maracatú - e ao mesmo tempo com pegada rock´n roll marcante. Uma ousadia que o Fellini se permitiu mais ou menos 10 anos antes, sem o mesmo sucesso, mas a fusão era com o samba. Cabe aqui um primeiro parêntese: Chico Science era muito fã de Fellini.
Eu, em 1994/95, uma Lolita começando a conhecer música boa de verdade, seguia ouvindo toneladas de canções -várias dispensáveis - e entre elas estavam também A cidade, Da lama ao caos, A Praeira e mais tarde Maracatú atômico e, a conhecidíssima e tocada à exaustão, Manguetown... Até que não pude mais ignorar o movimento musical que emergia de Recife para o Brasil, num momento em que a única música vinda do nordeste, até então, era o Axé com representantes que me recuso a citar os nomes.
Quando me dei conta não estava curtindo apenas Chico Science e Nação Zumbi, mas também outro grande nome daquela cena - ai, detesto essa expressão - Mundo Livre S/A, banda que acompanho até hoje. Segundo parentêse :vale muito a pena ouvir e ter o penúltimo disco da banda O outro mundo de Manuela Rosário.
Não só para mim -acredito- o mangue beat funcionou como uma visão nova para o rock e para a cultura de outras partes do Brasil. Embora, já tivesse viajado um pouco eu nunca tinha valorizado realmente a cultura fora do meu mundinho de cidade grande do eixo sudeste do país. Além de ter dado um ponta pé na chatice que dominava o pop rock nacional.
O mangue beat representado, principalmente, pela figura de Chico não foi mais o mesmo com sua perda. Tudo foi intenso e extremamente rápido como tudo aquilo que é marcante e transformador. A Nação Zumbi continua por aí, Mundo Livre S/A também, mas é impossível ignorar que falta uma peça importantíssima nessa história. Em todo caso o que foi feito permanece. Ainda bem!

28 de dezembro de 2006

Mais Açúcar em Nossas Vidas

Depois de descobrir o novo disco do Belle & Sebastian, aqui estou eu novamente escutando mais um disco que parece ter sido feito para ser escutado numa festa onde não se conhece ninguém, mas que acaba sendo divertindo porque é open bar e tem guaraná para todos.

Dirty On Purpose é uma banda de Nova Iorque que segue o rastro de sons fofos que acalmam e que agitam, no estilo Belle & Sebastian, só que com muito mais distorções nas guitarras. Ótimas melodias pop e fáceis de se escutar, além de ótimas canções para dançar se lambuzando de algodão doce.

Mas o encanto que faz tudo parecer uma eterna festa regada a muito açúcar é um pouco diluído com a melancolia de algumas letras sobre corações desfacelados e outras pequenas tragédias. Algumas músicas de Hallelujah Sirens, o disco de estréia do Dirty On Purpose, envolve a união de uma melancólica experiência cantada por um meloso vocal masculino e um doce vocal feminino e mais a batida pra cima de melodias feitas para se dançar de olhos bem fechados.

No disco permeiam algumas canções menos dançantes, como a Kill The City, que mesmo tendo uma levada quase folk, não se livrou das nervosas guitarras. No Radio é provavelmente o quase hit da banda, um pop rock gostoso que me fez lembrar alguns momentos do Yo La Tengo, com aquela pegada bem dançante e com aquelas guitarras distorcidas. Uma de minhas favoritas é a instrumental Monument, que me fez lembrar o post-punk de bandas como The Cure e Joy Division e que me levou longe o suficiente a ponto de escolher esta múscia como uma de minhas favoritas do ano e de outros tantos.

Um ótimo disco de estréia do Dirty on Purpose, uma banda para ficar de olho quando estivermos precisando de um som para colocar um pouquinho de açucar naquelas festinhas melancólicas e sem graça.

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:dirty on purpose:
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video clipe da alegre No Radio

19 de dezembro de 2006

I Am Not Afraid Of You And I Will Beat Your Ass

Um amigo disse mais ou menos o seguinte sobre o novo disco do Yo La Tengo : "Achei o disco muito variado, parece uma coletânea." Pois é, mal sabia ele que sua opinião cairia como uma luva para descrever o recém lançado I Am Not Afraid Of You And I Will Beat Your Ass. E duvido que ele um dia chegou a imaginar que este comentário encaixaria como uma meia na abertura de um post no Indigesto. Mais um que vai ficar famoso após ser citado no blog.

A variedade de sons e estilos neste último disco do Yo La Tengo só reforça a idéia que sempre tive de Ira, Georgia e James : são nerds musicais. Cada música do novo disco parece que foi retirada de um disco à parte, cada uma conta sua própria história e influência, sem deixarem de fazer parte do universo Yo La Tengo.

A influência do Velvet Underground continua firme e forte, assim como as microfonias e as experimentações; as pitadas de free jazz nas baladas pop com vocais sussurrados continuam marcando presença, tudo junto em envolventes melodias. Nada é igual, nada é descartável em I Am Not Afraid Of You.


O rock da banda e o horizonte musical que as envolve foi ampliado com o acréscimo de um novo estilo: a soul music, na faixa Mr.Tough. Em Daphnia, um instrumental de oito minutos que parece ter sido tirado de alguma trilha para se tocar em uma sala de espera acolhedora. A faixa de abertura, Pass The Hatchet, I Think I'm Goodkind, é puro Yo La Tengo: onze minutos do mesmo ritmo poderoso de baixo e bateria, onze minutos de uma viagem pelas distorções da guitarra de Ira. Em I Should Have Known Better a banda nos presenteia com um rock quase punk que lembra a banda X. Em Watch Out For Me Ronnie, o punk rock dos Ramones com pitadas de rockabilly de garagem é a bola da vez.

Para mim, como fã de Yo La Tengo, o álbum I Am Not Afraid Of You está próximo da perfeição. Nele os três conseguiram unir em 15 faixas todos os 22 anos de existência da banda. Conseguiram presentear o ouvinte fazendo uma homenagem a si próprios: uma coletânea de músicas inéditas. Talvez o Yo La Tengo seja a única banda capaz de algo assim, sem parecerem pretensiosos, sendo eles mesmos e lançando um dos melhores discos de sua carreira.

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:yo la tengo:
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Mr.Tough e o groove do yo la tengo ao vivo

5 de dezembro de 2006

Lolita Punk Rocker

Karen O já está fazendo escola. Começam a pipocar as crias da estridente vocalista da ótima banda Yeah Yeah Yeahs. Jemina Pearl, da banda americana Be Your Own PET, é uma destas crias. O disco homônimo de estréia do Be Your Own PET é um dos discos mais bacanas de punk rock de garagem lançado nos últimos anos.

Sim, porque os roqueiros, tanto os moleques como os dinossauros, estão com dificuldade de fazer seus discos parecerem discos de rock. Para se fazer um disco que transborde rock'n'roll é preciso energia e vontade, mais do que uma produção limpa e pomposa. E com o avanço da tecnologia é mais fácil fazer um disco limpinho, com uma produção caprichada. E já que é fácil lançar um disco que agrade palmeirenses e corinthianos, acabam esquecendo de mostrar o verdadeiro sentido do rock, que é ficar exausto e respingar o suor das gravações nas caixas de som.

Be Your Own PET é justamente o que se procura em um disco de rock'n'roll: a produção é o menos importante. Quatro adolescentes - três caras (quem se importa?) e Jemina Pearl - arrebentam um som cru e honesto que sai com aquela sensação de que o negócio foi gravado ao vivo, sem cortes e interrupções. Um disco de 15 faixas, que dura não mais que 33 minutos, que sangram uma nas outras.

De porrada em porrada, acompanhamos a guitarra estridente e o nervosismo do baixo e da bateria do Be Your Own PET. E logo percebemos que quem comanda tudo é a garota de 17 anos Jemina Pearl, com sua poderosa voz e a suas letras que transbordam sexualidade e diversão - Fuuuuuun é o nome de uma das faixas - em uma mistura divertida de riot-girl adolescente com uma já madura e esperta sensibilidade feminina. Tudo o que queremos ouvir de uma lolita punk rocker.
E ai, vai encarar?

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:be your own pet:
:myspace:
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tocando ao vivo a faixa We Will Vacation, You Will Be My Parasole

4 de dezembro de 2006

Sinceridade Pop

Eu tenho que ser sincero antes de começar a escrever sobre o recente álbum da banda escocesa Belle & Sebastian, The Life Pursuit. Nunca me chamou muita atenção o que já escutei deles, seja vendo-os tocando ao vivo no Free Jazz, em 2001, seja ouvindo uma música ali e outra acolá pelos lugares e momentos da vida.

Até aparecer uma daquelas pessoas especiais com o The Life Pursuit. O disco me foi entregue junto com outros discos de Stan Getz e o do The Commitments, sem eu ter comentado se gostava ou não da Belle ou do Sebastian. Era uma mistura interessante de sentimentos: o disco alegre e direto do pop rock do Belle & Sebastian no meio de um vendaval de improvisos e caminhos variados do elaborado sax de Stan Getz. Sons e sentimentos mais ou menos relacionados com o que eu estava passando na época.

Navegando em um site de música gringa, acabei lendo o seguinte comentário feito por um destes gringos anônimos que habitam a internet: o The Life Pursuit é uma mistura de Morrissey com o pop rock dos anos 60 da banda The Monkees. E o gringo tinha razão. Na grudenta Another Sunny Day é possível perceber a simplicidade pop melancólica dos Smiths junto com a alegria pop saltitante dos Monkees.

Associar a ótima The Blues Are Still Blue com o delicioso glam rock de Marc Bolan e o seu T-Rex é garantia de sorrisos. Ao escutar Sukie In The Graveyard notasse a influência de um David Bowie que poderia estar cantando uma alegre melodia glam sobre uma garota que para se ver livre dos problemas, entre outras coisas, adora passear no cemitério. É agradável escutar estilos diferentes em um mesmo disco, ainda mais quando tudo se encaixa em melodias tão fáceis de se escutar. E estas melodias funcionam muito bem por todo o The Life Pursuit, até mesmo quando a banda experimenta um tranquilo soul na faixa Song For Sunshine.

Eu não imaginava que fosse mudar tão cedo de opinião sobre o Belle & Sebastian, mas com o The Life Pursuit eles conseguiram, graças ao pop sincero e as diversas e ótimas influências que a banda soube diluir tão bem ao seu som.

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:belle & sebastian:
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video clipe de The Blues Are Still Blue

18 de novembro de 2006

I´ve never seen a show like that before...

Then again the same old story
World will travel, oh so quickly
Travel first and lean towards this time.
Oh, I'll break them down, no mercy shown
Heaven knows, it's got to be this time
Watching her, these things she said
The times she cried, too frail to wake this time


Depois de 11 anos indo a shows, acreditei por um tempo que a ansiedade se tornaria coisa do passado já que a prática, teoricamente, acaba com a surpresa. Ainda bem que a gente se engana.

Há alguns meses eu disse que todas as minhas segundas-feiras seriam azuis até 14/11, dia da segunda apresentação do New Order, em São Paulo. Mal sabia eu que não só as segundas-feiras como os dias e noites se tornariam azulados e multicoloridos depois do show.

Ontem, durante quase duas horas me tornei uma adolescente ansiosa e emocionada como nunca acreditei ser possível. Se ano passado, tive a melhor surpresa em relação a shows com o Flaming Lips, ontem a

superação completa de qualquer expectativa aconteceu.

Junto a mais ou menos 6.000 pessoas, vi a banda que um dia compôs o Joy Division começar o show - que seria uma festa perfeita - com Crystal, que viria acompanhada de Regret - cuja letra já decorou uma das paredes do meu quarto - e mais tarde de Ceremony. Com esta seqüência foi impossível não se emocionar.E era apenas o começo...

Ao lado das caixas, do lado direito do palco do Via Funchal era possível ter uma boa visão do divertido Peter Hook que falava com as pessoas, sorria, cantava, fazia poses para as câmeras- e isso não é exagero das matérias veiculadas pelos meios de comunicação.

O aparentemente tímido Bernard Summer estava empolgado: cantava com gosto, falava com o público, dava uns gritos ? que às vezes eu não acreditava muito que viessem dele - e até dançou durante Bizarre Love Triangle quando estava livre da guitarra.

O discreto Stephen Morris fazia um trabalho quase matemático na sua bateria parte acústica, parte eletrônica. Perfeito!

Como se tudo isso fosse pouco Transmission veio como um tapa na orelha: seco, direto e inesquecível. Além dela e Ceremony, outros Joy Division ainda seriam ouvidos.

O público não estava unido ali apenas pela paixão por New Order e Joy Division, mas também por cantarem quase todas as canções, inclusive as novas como Waiting for the Sirens Call e a ótima Krafty.

Em algum momento, surgiu These Days. Outro Joy Division! Estava quase pedindo para me beliscarem para ter certeza de que aquilo era verdade.


A discoteca estava prestes a começar com as primeiras batidas de True Faith. Na seqüência, mais ou menos nessa ordem vieram Bizarre Love Triangle, a linda Temptation, Perfect Kiss que se transformaria na inesquecível, Blue Monday para matar a galera de dançar. Exagero de hits? Sim, mas era um show para fãs e todos ali queriam cantar junto com a banda e dançar até ficar exausto.

Paradinha. O primeiro bis vem com mais uma emoção forte: Atmosphere! Não esperava essa. Paralisei, sem acreditar no que via e ouvia. As luzes coloridas que giravam lentamente no ritmo das notas da canção, o público, a banda criaram a atmosfera mais emotiva que já vi num show. Nesse clima, impossível não sentir falta do vocal marcante de Ian Curtis e porque não de sua presença -por mais viajante que isso possa paracer. Se há alguma magia no mundo com certeza ela esteve por ali.

Ainda meio sem acreditar no que tinha ouvido, vi o New Order subir pela segunda vez ao palco para se despedir com Love will tear us apart.

Era o fim do melhor show que eu tive a sorte de ver. Não sei se haverá outro que consiga tomar este posto. A minha trilha sonora mental ainda está tomada por versos assim:

Oh, you´ve got green eyes/
Oh,you´ve got blue eyes/
Oh, you´ve got gray eyes/
And I´ve never seen anyone quite like you before...


E eu estou completamente atordoada, ainda.


PS:Tenho certeza que este foi o post mais deslumbrado que já coloquei aqui.Mas sei que outros como eu estão igualmente bobos. Na saída do show encontrei uma moça que conheci no dia que comprei os ingressos e ela me disse "valeu a pena cada gota de suor derramada". E eu completo: não só o suor, como a grana, o tempo, o cansaço e a recusa de algum convite para um bate volta até a praia no feriado do dia 15 valeram e valeriam novamente.