Com os sapatos enlameados. Foi assim que entramos no local do festival Claro que é Rock, após pararmos no estacionamento oficial do evento, um morro sem iluminação onde carros atolavam, pessoas escorregavam e literalmente enfiavam o pé na lama. Por R$15 queríamos o que? Um estacionamento de fácil acesso, pavimentado e bem iluminado? A "odisséia" que vivi antes e depois do show por causa do estacionamento foi algo tão inusitado que era impossível ficar indignado. É ligar o botão "foda-se" e aproveitar. Great shows ahead!
Por motivos que prefiro omitir e que foram rapidamente sanados através da ação de um bastão de baseball atingindo um crânio desprovido de inteligência, cheguei no meio do show do Flaming Lips. Sim, eu havia "estudado" o setlist do Flaming Lips pela internet, já sabia que a terceira música era a cover de Bohemian Rhapsody do Queen e que o gênio por trás das composições da banda, Wayne Coyne, desfila por sobre a platéia dentro de uma bolha de ar. Sim, não vi nada disto. Do menos, o pior. Consegui pegar a linda Do You Realize?, o hit She Don't Use Jelly e a maluca viagem de Yoshimi Battles The Pink Robots. Com o palco cheio de adultos fantasiados de bichos coloridos, Wayne, com toda sua simpatia, chama o tempo todo o público para entrar na festa pscicodélica que é o show do Flaming Lips. Você não conhece a banda, nunca ouviu suas músicas, mas o show serve pra você também. O show do Flaming Lips não é um momento em que eles estão ali apenas para apresentar suas músicas. É um show de rock, com cara de festa, onde o público presente, mesmo não conhecendo absolutamente nada da banda, adorou os anfitriões e acabou se divertindo. Pouco, pois o show foi curto.
Uma mijada histórica dentro de um banheiro químico fedorento. Isto foi o que aconteceu entre o show do Flaming Lips e o do Iggy and The Stooges. Vocês acham que iam dormir sem esta?
Iggy Pop. Influenciou tanta gente com suas performances ao vivo e com sua música que eu ainda não estava pronto para o que estava por vir. Tanto é que o show começou e eu não sabia direito onde ficar para assistir tudo aquilo. Iggy e os Stooges remanescentes me lembraram do por que cheguei a usar a cara de Iggy em um trabalho de calcografia na faculdade. I Wanna Be your Dog, 1969, No Fun, Real Cool Time, Funhouse. Só estas seminais canções de mais de trinta anos atrás já valeriam o show, mas pagamos pra ver mesmo é Iggy e sua dança, seus saltos, suas performances. A energia da banda é toda catalisada em Iggy e posta pra fora, para a platéia, que retribui subindo no palco, dançando, abraçando e cantando ao lado do mestre, da iguana do rock, no momento mais rock'n'roll do dia. Nada como um show proto-punk para desintegrar de nossas mentes uma festa pscicodélica. Iggy e os Stooges no final da década de 60 mostraram que rock'n'roll é destruição, é dançar, se jogar, gritar. Iggy, trinta e cinco anos depois, continua a nos ensinar tudo isso, ali, na nossa frente.
Sai o cru e destruidor e entra a banda que foi capaz de reinventar, através de guitarras distorcidas, efeitos e desafinações, a (des)construção do rock no início da década de 80. Meu primeiro show do Sonic Youth, uma de minhas bandas favoritas de todos os tempos. A banda não se importou com o fato de que era apenas a segunda vez que eles vinham ao Brasil em mais de vinte anos de estrada. Em outras palavras, focaram seu show em músicas do disco novo, de 2004, Sonic Nurse. Pouca gente escutou este disco e hits esperados como Diamond Sea e Sugar Kane foram ignorados. A banda focou toda sua energia nas guitarras e nas longas distorções e experimentações, deixando pouco espaço para o rock'n'roll. O pouco convencional tomou conta, mesmo quando resolveram tocar alguns de seus antigos clássicos, como Schizofrenia e Teenage Riot. Iggy não deixou pedra sobre pedra, o Sonic fazia apenas vibrar as pedras. O ponto alto do show foi quando a cinquentona Kin Gordon assumiu os vocais, cantou e dançou na frente da platéia, mostrando simpatia no único momento de interação com público. O fato é que depois de dois shows onde a platéia participou ativamente, seja dançando, cantando ou se deslumbrando, assistir ao show do Sonic Youth naquele momento foi como ir para o lounge, sentar no sofá e tomar uma coca-cola gelada.
Trent Reznor, o demente por trás do NIN, seria o próximo. O último show da noite era o que eu menos esperava, apesar de já ter adorado a banda e escutado seus discos exaustivamente. Errei deliciosamente em não esperar nada. Foi um show violento e agressivo, graças a maioria das canções do NIN, que extrapolam ao vivo o seu peso e agressividade, tanto na tríade guitarra-baixo-bateria quanto nas letras. Foi um show belo e introspectivo, graças a performance de Reznor que parece viver intensamente as letras ao cantar, em especial no momento mais calmo do show ao interpretar a canção Hurt que, segundo Johnny Cash, é a mais verdadeira canção anti-drogas já composta. Vai ser difícil esquecer as esculturas verticais que mudam de cor no meio do palco, as luzes e os lasers que contracenavam com a escuridão, com a platéia, com as músicas e com a silhueta dos integrantes da banda. O NIN fechou o festival como deveria, apresentando o show com o visual mais legal que eu já tive a oportunidade de assistir ao vivo.
Fim do festival, de volta pro carro, subir o morro, pescoço dolorido, ser os últimos a sair do estacionamento, chegar em casa às 5 e meia da manhã, um sorriso enorme de satisfação rasgando o rosto. Que bom seria se tivéssemos mais festivais como este por aqui.
Por motivos que prefiro omitir e que foram rapidamente sanados através da ação de um bastão de baseball atingindo um crânio desprovido de inteligência, cheguei no meio do show do Flaming Lips. Sim, eu havia "estudado" o setlist do Flaming Lips pela internet, já sabia que a terceira música era a cover de Bohemian Rhapsody do Queen e que o gênio por trás das composições da banda, Wayne Coyne, desfila por sobre a platéia dentro de uma bolha de ar. Sim, não vi nada disto. Do menos, o pior. Consegui pegar a linda Do You Realize?, o hit She Don't Use Jelly e a maluca viagem de Yoshimi Battles The Pink Robots. Com o palco cheio de adultos fantasiados de bichos coloridos, Wayne, com toda sua simpatia, chama o tempo todo o público para entrar na festa pscicodélica que é o show do Flaming Lips. Você não conhece a banda, nunca ouviu suas músicas, mas o show serve pra você também. O show do Flaming Lips não é um momento em que eles estão ali apenas para apresentar suas músicas. É um show de rock, com cara de festa, onde o público presente, mesmo não conhecendo absolutamente nada da banda, adorou os anfitriões e acabou se divertindo. Pouco, pois o show foi curto.
Uma mijada histórica dentro de um banheiro químico fedorento. Isto foi o que aconteceu entre o show do Flaming Lips e o do Iggy and The Stooges. Vocês acham que iam dormir sem esta?
Iggy Pop. Influenciou tanta gente com suas performances ao vivo e com sua música que eu ainda não estava pronto para o que estava por vir. Tanto é que o show começou e eu não sabia direito onde ficar para assistir tudo aquilo. Iggy e os Stooges remanescentes me lembraram do por que cheguei a usar a cara de Iggy em um trabalho de calcografia na faculdade. I Wanna Be your Dog, 1969, No Fun, Real Cool Time, Funhouse. Só estas seminais canções de mais de trinta anos atrás já valeriam o show, mas pagamos pra ver mesmo é Iggy e sua dança, seus saltos, suas performances. A energia da banda é toda catalisada em Iggy e posta pra fora, para a platéia, que retribui subindo no palco, dançando, abraçando e cantando ao lado do mestre, da iguana do rock, no momento mais rock'n'roll do dia. Nada como um show proto-punk para desintegrar de nossas mentes uma festa pscicodélica. Iggy e os Stooges no final da década de 60 mostraram que rock'n'roll é destruição, é dançar, se jogar, gritar. Iggy, trinta e cinco anos depois, continua a nos ensinar tudo isso, ali, na nossa frente.
Sai o cru e destruidor e entra a banda que foi capaz de reinventar, através de guitarras distorcidas, efeitos e desafinações, a (des)construção do rock no início da década de 80. Meu primeiro show do Sonic Youth, uma de minhas bandas favoritas de todos os tempos. A banda não se importou com o fato de que era apenas a segunda vez que eles vinham ao Brasil em mais de vinte anos de estrada. Em outras palavras, focaram seu show em músicas do disco novo, de 2004, Sonic Nurse. Pouca gente escutou este disco e hits esperados como Diamond Sea e Sugar Kane foram ignorados. A banda focou toda sua energia nas guitarras e nas longas distorções e experimentações, deixando pouco espaço para o rock'n'roll. O pouco convencional tomou conta, mesmo quando resolveram tocar alguns de seus antigos clássicos, como Schizofrenia e Teenage Riot. Iggy não deixou pedra sobre pedra, o Sonic fazia apenas vibrar as pedras. O ponto alto do show foi quando a cinquentona Kin Gordon assumiu os vocais, cantou e dançou na frente da platéia, mostrando simpatia no único momento de interação com público. O fato é que depois de dois shows onde a platéia participou ativamente, seja dançando, cantando ou se deslumbrando, assistir ao show do Sonic Youth naquele momento foi como ir para o lounge, sentar no sofá e tomar uma coca-cola gelada.
Trent Reznor, o demente por trás do NIN, seria o próximo. O último show da noite era o que eu menos esperava, apesar de já ter adorado a banda e escutado seus discos exaustivamente. Errei deliciosamente em não esperar nada. Foi um show violento e agressivo, graças a maioria das canções do NIN, que extrapolam ao vivo o seu peso e agressividade, tanto na tríade guitarra-baixo-bateria quanto nas letras. Foi um show belo e introspectivo, graças a performance de Reznor que parece viver intensamente as letras ao cantar, em especial no momento mais calmo do show ao interpretar a canção Hurt que, segundo Johnny Cash, é a mais verdadeira canção anti-drogas já composta. Vai ser difícil esquecer as esculturas verticais que mudam de cor no meio do palco, as luzes e os lasers que contracenavam com a escuridão, com a platéia, com as músicas e com a silhueta dos integrantes da banda. O NIN fechou o festival como deveria, apresentando o show com o visual mais legal que eu já tive a oportunidade de assistir ao vivo.
Fim do festival, de volta pro carro, subir o morro, pescoço dolorido, ser os últimos a sair do estacionamento, chegar em casa às 5 e meia da manhã, um sorriso enorme de satisfação rasgando o rosto. Que bom seria se tivéssemos mais festivais como este por aqui.