18 de agosto de 2005

NiN no Brasil

trent reznorEsse ano vai servir para lavar a alma... Pelo menos em matéria de shows. Depois da sessão nostalgia com Marky Ramone e a sessão histórica com MC5, me aparece a notícia de que o demente Trent Reznor e seu Nine Inch Nails estão vindo tocar em novembro nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro para uma sessão, digamos, psicopata.

O ano era de 1993 quando escutei NIN pela primeira vez. Lembro de ter lido em algum lugar que o NIN era, na verdade, uma banda de um homem só, o já citado Trent Reznor. Foi ao escutar o primeiro trabalho de Reznor, Pretty Hate Machine de 1989, o que para muitos é, com razão, o mais calmo e "acessível" trabalho do NIN, que percebi como a música eletrônica podia ser algo muito além de música feita para se tocar em pistas. Ela também podia ser introspectiva, insana, dolorida e, porque não, dançante. Os álbuns seguintes de Reznor são uma história à parte, mais agressivos, com mais guitarras, mais influentes. Sujeitos como Marylin Manson e bandas como Korn não existiriam sem o NIN para influência-los. Infelizmente, diriam alguns.

O fato é que o cara que morou e gravou o disco The Downward Spiral na mansão em que a atriz Sharon State foi morta pelo psicopata Charles Manson está vindo aí. Entendeu agora por que chamei a vinda do NIN de sessão psicopata e Trent Reznor de demente? Histórias como estas são normais na obra de Reznor, sempre envolvido no lado mais sombrio da psique humana. E é assim que Reznor faz seus ótimos discos, escrevendo sobre dores torturantes e violentas causadas por alguma paixão perdida.

16 de agosto de 2005

MC5 e o velho Rock'n'Roll, baibe !

wayne kramerNeste último sábado, dia 13 de Agosto, numa antiga fábrica maquiada para suportar eventos, no bairro industrial da Lapa, uma das bandas mais influentes da história se apresentou para um público de mais ou menos 1500 felizardos, ávidos por rock'n'roll. O DKT/MC5 e o convidado Mark Arm, vocalista do Mudhoney, ofereceram um show histórico, simples, enérgico.

Todas as bandas escaladas representavam o que há de mais tradicional e influente no rock nos últimos trinta anos. Isto é, muito punk, surf music e rock de garagem. Nada de música eletrônica, de teclados, nada do novo rock, de som moderno, "Nada de chubi-chubi-chubiruba", como disse muito bem um amigo. Uma pena os sets terem sido muito curtos, Pocket Shows de no máximo 45 minutos para cada banda, enquanto que o set do DKT/MC5 teve mais de uma hora.

Meu destaque vai para os Autoramas com suas influências de Man Or Astro-Man e Ramones; o New York Dolls paulista, Forgotten Boys, sempre direto, sem frescuras; Los Pirata com seu surf-punk-folk cantado em portunhol; o punk rock do Objeto Amarelo e suas letras divertidas e estranhas; os gaúchos do não menos divertido Irmãos Rocha! com seu punk rock das antigas; e o hard-core do Muzzarelas e suas bombinhas ninja. A parte negativa ficou para a acústica que, em praticamente todos os shows, foi um grande problema. O som dos instrumentos estava todo misturado, parecendo com um radinho de pilha AM/FM ligado no máximo. O mais curioso é que no show de algumas bandas a acústica ficou boa, em especial no show do Los Pirata e do DKT/MC5. Provavelmente o problema tenha sido causado pela pressa da organização, sem dar chance às bandas fazerem uma simples passagem de som.

Quando o DKT/MC5 entrou já passava das 3 da madrugada e nada mais importava. Ver o público cantando junto as influentes e, ao mesmo, deconhecidas músicas do MC5 foi emocionante. O senhor garganta Mark Arm gritava como nunca, foi perfeito em sua modesta posição de colocar pra fora toda a energia revolucionária cantada há mais de 30 anos atrás pelo falecido Rob Tyner. Wayne Kramer dividia com Mark a tarefa dos vocais, sempre muito simpático com o público. O mesmo Kramer, a certa altura do show, separou a platéia, pedindo que cada um cantasse um trecho e, logo depois, pediu que todos cantassem juntos, inflamando a platéia ao discursar "With unity, we have power!". O MC5 trouxe, nem que por um instante, um poquinho da atitude politizada que sempre marcou a banda na década de 60. Voltaram para dois bis antes de finalmente irem embora.

Queria deixar só mais uma notinha sobre o Campari... Ô liquidozinho estranho esse campari, parece um xarope de groselha. Será por isso que botam um monte de gelo, pra disfarçar o gosto ruim?

Mercury Rev e Raveonettes

Aproveitando o último post da Cátia, gostaria de abrir um gigantesco parenteses e escrever um pouquinho sobre duas bandas que estão vindo para o Brasil e dar uma cutucada pessoal, de leve, no Curitiba Pop Festival deste ano.

Primeiro o Mercury Rev, banda americana formada no final dos anos 80 difícil de definir, composta por músicos versáteis com discos recheados de faixas que beiram ao pop, ao jazz, à psicodelia e ao puro noise. E muito rock. Às vezes parece Dinosaur Jr, às vezes parece Frank Zappa, é uma agradável mistura de muitos instrumentos, estilos e ótimas produções. E não existe ali mania de grandeza, nada é exagerado. No palco, dizem, tentam produzir a energia dos álbuns à enésima potência apenas com guitarras, baixo e bateria.

No mesmo dia em que o Mercury Rev se apresenta em Curitiba, os dinamarqueses dos Raveonettes tocam também pela primeira vez no Brasil. Mais conhecida, mais simples de definir, Raveonettes era, até o lançamento do último álbum, a banda mais próxima de Jesus and Mary Chain que eu consigo lembrar de ter escutado. Seu último trabalho é um disco com canções limpas que lembram o início do rock'n'roll, sem a pegada que caracterizou a banda, isto é, sem os três acordes das guitarras barulhentas, o baixo distorcido e os vocais a là irmãos Reid. Eu gostaria muito de ver um show dos Raveonettes que passasse bem longe da sonoridade do último disco.

O Curitiba Pop Festival, na minha humilde opinião, esta muito mal servido de bandas nacionais. Ultramen ? O Sete ? Leela ? Rádio de Outono ? Por favor, me parece ser uma das piores escolhas de bandas nacionais "independentes" da história. Bandas que nunca vão acrescentar nada, apenas o martírio de ficar esperando as atrações principais.
Boa sorte a quem for !

15 de agosto de 2005

Festivai$, perguntas que não calam e literatura

Depois de tanto tempo resolvi integrar a tríade de amigos internéticos que fazem esse blog.Nossa!
Campari Rock, Curitiba Rock Festival, Tim Festival, É claro que é rock...fora os shows avulsos como o Moby (um grande assalto!). É muito bom ver que finalmente a carência de festivais que antes deixava qualquer mortal, fã de música rock/pop/eletrônica/alternativa depressivo acabou. Agora tem de tudo e para todos os gostos.

Weezer,Raveonettes e Mercury Rev, em Curitiba. Strokes junto Wilco ou Kings of Leon ou Arcade Fire, aqui em São Paulo, na versão mini do Tim Festival que este ano rola na íntegra só no Rio. Moby no Espaço das Américas ou no aniversário do Hotel Unique para quem for muito dinheirudo, e talvez o Interpol no Claro que é rock fora todos os outros shows que ainda não estou sabendo e os que já rolaram no caso dos do Campari Rock. O grande problema vai ser escolher aonde ir em tão pouco tempo já que tudo rola concentrado em mais ou menos dois meses.

Mas não dá para não ficar meio bobo com preços. O comentário sobre ser dinheirudo em relação ao show do Moby, no Hotel Unique fica claro quando a gente lembra que o ingresso custa 300 reaizinhos!! Tudo bem que tem um open bar,mas... No espaço das Américas, o preço já cai para R$ 140. Acho que isso justifica o motivo do então Curitiba Pop Festiva, na edição de 2004, não ter fechado com o figuraça.

Confesso que a única coisa que me interessou, de fato, foi o Curitiba Rock Festival e mais ainda pela segunda noite que terá no palco Mercury Rev e Raveonettes, justamente, porque não tenho a menor idéia do que esses shows reservam. Assim como o mentor Sune Rose Wagner do Raveonettes também não sabe o que o Brasil reserva.

A pergunta que não cala...
Qual o real sentimento de Ian McCulloch pelo Brasil ? Será que é uma paixão irresistível pela nossa caipirinha ou quer acumular mais algum pecúnio para ter uma aposentadoria tranqüila?
Porque em quatro anos ele esteve aqui com o Echo and the Bunnymen e sem a banda umas 3 vezes...

Literatura
Pegando a onda do clima literário do post anterior fica a dica de um grande livro - que inclusive estou lendo- chamado "Os irmãos Karamázov"do escritor russo Fiódor Dostoiévisk. Conflitos familiares e muita alfinetada na fé católica dão o tom nesta longa história que posso voltar a comentar quando terminar de ler.



A Palestina em Quadrinhos

Com a retirada dos colonos judeus da faixa de gaza iniciada recentemente, nada mais atual do que ler Palestina - Uma Nação Ocupada, obra desenhada e escrita pelo jornalista Joe Sacco, lançado já faz um tempo aqui no Brasil pela Editora Conrad. Sacco viajou para a Cisjordânia a fim de retratar o lado da Palestina ocupada. O lado palestino é um dos lados que menos se vê nos jornais, os palestinos que acabam sendo o povo mais estereotipado pela mídia ocidental.

Ao conviver dias com os palestinos, morando em suas casas, comendo de suas comidas, escutando suas histórias, Sacco mostra como é a vida deste povo sofrido que luta desesperadamente a cada dia contra a falta de serviços básicos como luz e àgua, que vive a cada dia aterrorizado pelo poder bélico de Israel e de seus soldados. Voltar a viver como viviam antes da invasão de suas terras, este é o desejo de muitos que acabam lutando com pedras em punho contra tanques de guerra, este é o sonho de outros tantos que já não acreditam mais em um processo de paz e apenas tentam viver as suas vidas honestamente.

Me revolta saber, lendo o trabalho de Sacco, como vive o rico povo israelense, totalmente amparado pelo seu governo e de como vive os palestinos com sua pobreza, expulsos de sua própria terra, tratados de uma forma desumana. Me revolta mais ainda saber que a invasão é justificada, por muitos israelenses, por alguns escritos antigos de que a terra em que viviam os palestinos é uma terra sagrada e que tudo justifica a colonização destas terras e a expulsão, por qualquer meio, dos que lá viviam por séculos.

Sacco retrata histórias verídicas contadas por palestinos e vivenciadas por ele próprio e apresenta com detalhes o porquê de que tudo ali parece estar próximo a explodir, como um enorme barril de pólvora. Palestina - Uma Nação Ocupada é um trabalho jornalístico em formato de quadrinhos. Para mim, é um trabalho histórico sobre a situação na Palestina que abre os olhos como nenhum outro meio de comunicação já pensou em mostrar.

Para quem não tem dinheiro, dê uma passada na agradável gibiteca do SESI que fica na Avenida Paulista 1313, em frente ao metrô Trianon-Masp, lá estão à disposição para leitura as obras de Sacco e de tantos outros mestres dos quadrinhos.
Boa leitura !

Arcade em chamas no Festival do Celular

No ano de 2004 a banda canadense Arcade Fire lançou um álbum aclamado pela crítica chamado Funeral que só fui ouvir falar à uns 3 meses atrás. Com Soulseek em punho, abaixei o tal trabalho dos caras e me deixei levar facilmente pelo art-rock com muitas cordas e o ritmo disco, onde quem manda mesmo é o baixo e a bateria.

Tenho tendência a gostar mais de bandas que amplificam a importância da cozinha baixo-bateria, mesmo por que é ela que faz mexermos o esqueleto ou ficarmos batendo a ponta dos pés.
As músicas do Arcade apresentam um crescendo perfeito entre o começo lento e quase dramático e o final, quando a melodia chega a ferver. Você vai balançar a cabeça antes mesmo de perceber que ali no meio estão um violino, um violão celo e outras cordas, todos seguindo o ritmo poderoso e constante da cozinha.
O single Wake Up já virou hino e a faixa Rebelion (Lies) se encaixa perfeitamente em qualquer pista de dança.

Influências da banda?
O que me vem à mente neste momento seria a psicodelia do Flaming Lips (o vocal lembra muito), o glam rock do Bowie, a breguiçe do Roxy Music e a densidade de bandas post-punk como o Echo and The Bunnymen.
Pois é, ninguém mandou perguntar...

Dizem os felizardos que já viram a banda ao vivo que o Arcade Fire é um esporro de suor e rock'n'roll que, dependendo do local e do dia, até sete pessoas se misturam no palco, entre integrantes e convidados, tocando tudo e todos.

Agora, sem mais lamentações, está confirmada a presença do Arcade Fire no Rio de Janeiro, no Tim Festival, dia 22 de Outubro. Festival este que também anunciou a vinda dos Strokes e da já rodada banda Wilco. O festival acontece também em São Paulo dia 23 de Outubro e em Porto Alegre no dia 25 onde, por enquanto, apenas os Strokes estão confirmados.

Será que vamos ir comprar o ingresso para ver o Strokes e vamos voltar falando da banda desconhecida que ninguem nunca ouviu falar e que simplesmente arrebentou ?
Tomara que sim !

5 de agosto de 2005

Pipoca (Muito) Doce

Não tem desculpa. A Fantástica Fábrica de Chocolates (Charlie and the Chocolate Factory) foi reinaugurada pelo Tim Burton (para alegria dos 467.621.442.790 fãs dos filmes dele) e já está a pleno funcionamento, emitindo centenas de litros de gases achocolatados à atmosfera nesse exato instante. Onde? Ora bolas, eu estou falando de um filme, então é claro que é no cinema!

Bom, piadinhas infames à parte, o filme pode ser considerado algo muito bom e algo muito ruim, depende da ótica de quem está tecendo o comentário.

Os que estiverem afim de elogiar a obra poderão dizer que toda a magia do clássico da
Sessão da Tarde continua lá, intacta e quem sabe até melhorada pelo toque genial de obscuridade e sombras que só o nosso amigo Tim Burton consegue dar a um filme. Podem dizer que a atuação de Johnny Depp (Willy Wonka) está absolutamente genial. E podem também dizer que o garotinho (putz, esqueci o nome do moleque. Mas é o mesmo que trabalhou com o Depp em "Finding Neverland".) está terrivelmente foda (posso dizer isso nesse blog?) e totalmente profissional e emocionante, mesmo pra um garotinho daquela idade. E ainda podem acrescentar que os Oompa-Loompas ficaram muito legais multiplicados digitalmente (todos eles são interpretados pelo mesmo cara) e cantam musiquinhas muito mais animadas e trabalhadas, fazendo com que o povo todo corra desesperadamente às portas das lojas de CDs para adquirirem a trilha sonora. Sim, eles podem dizer isso, e tudo isso, minha gente, está certo.

Mas, por outro lado, todavia, contudo, alternativamente, os que não gostarem da refilmagem podem dizer que o lance das relações pai-filho entre Willy Wonka e seu pai,
Wilbur Wonka (interpretado por Christopher Lee), que foram tiradas sabe-se lá de onde pelo diretor, não tiveram "nada a ver com nada". Podem dizer que a "moral da história", que o filme passa na última cena tirou todo o lance meio psicótico do filme anterior. Podem dizer até que faltou o clássico cem por cento assobiável "Oompa, loompa, doompa-dee-doo" nas musiquinhas dos Oompas-Loompas. Enfim, há zárquons* de coisas que podem ser ditas por quem não gostou. E todas serão verdades, de certo ponto de vista.

O que pode ser dito para concluir é que eu gostei. Minha intenção com esse texto foi justamente a de dizer que quem não gostou possivelmente tem motivos pra isso, assim como quem gostou. Esse não é o filme perfeito desse século, nem mesmo pode-se dizer ao certo que esse é melhor do que o antigo, mas pode muito bem agradar a muitos. Incluindo você aí, que já está com olhos cansados de ler isso.

Então, como eu disse no início, não tem mais desculpas. Levanta daí e vai ver o filme!

Depois volta aqui e me conta em que grupo você resolveu entrar.

*Não sabe de onde raios eu tirei a palavra "zárquon"? Bah! Tá bom, no próximo post eu explico.