26 de dezembro de 2005

Claro que é Lama

Com os sapatos enlameados. Foi assim que entramos no local do festival Claro que é Rock, após pararmos no estacionamento oficial do evento, um morro sem iluminação onde carros atolavam, pessoas escorregavam e literalmente enfiavam o pé na lama. Por R$15 queríamos o que? Um estacionamento de fácil acesso, pavimentado e bem iluminado? A "odisséia" que vivi antes e depois do show por causa do estacionamento foi algo tão inusitado que era impossível ficar indignado. É ligar o botão "foda-se" e aproveitar. Great shows ahead!

o senhor simpatia wayne coyne, do flaming lipsPor motivos que prefiro omitir e que foram rapidamente sanados através da ação de um bastão de baseball atingindo um crânio desprovido de inteligência, cheguei no meio do show do Flaming Lips. Sim, eu havia "estudado" o setlist do Flaming Lips pela internet, já sabia que a terceira música era a cover de Bohemian Rhapsody do Queen e que o gênio por trás das composições da banda, Wayne Coyne, desfila por sobre a platéia dentro de uma bolha de ar. Sim, não vi nada disto. Do menos, o pior. Consegui pegar a linda Do You Realize?, o hit She Don't Use Jelly e a maluca viagem de Yoshimi Battles The Pink Robots. Com o palco cheio de adultos fantasiados de bichos coloridos, Wayne, com toda sua simpatia, chama o tempo todo o público para entrar na festa pscicodélica que é o show do Flaming Lips. Você não conhece a banda, nunca ouviu suas músicas, mas o show serve pra você também. O show do Flaming Lips não é um momento em que eles estão ali apenas para apresentar suas músicas. É um show de rock, com cara de festa, onde o público presente, mesmo não conhecendo absolutamente nada da banda, adorou os anfitriões e acabou se divertindo. Pouco, pois o show foi curto.

Uma mijada histórica dentro de um banheiro químico fedorento. Isto foi o que aconteceu entre o show do Flaming Lips e o do Iggy and The Stooges. Vocês acham que iam dormir sem esta?

a divindade iggy popIggy Pop. Influenciou tanta gente com suas performances ao vivo e com sua música que eu ainda não estava pronto para o que estava por vir. Tanto é que o show começou e eu não sabia direito onde ficar para assistir tudo aquilo. Iggy e os Stooges remanescentes me lembraram do por que cheguei a usar a cara de Iggy em um trabalho de calcografia na faculdade. I Wanna Be your Dog, 1969, No Fun, Real Cool Time, Funhouse. Só estas seminais canções de mais de trinta anos atrás já valeriam o show, mas pagamos pra ver mesmo é Iggy e sua dança, seus saltos, suas performances. A energia da banda é toda catalisada em Iggy e posta pra fora, para a platéia, que retribui subindo no palco, dançando, abraçando e cantando ao lado do mestre, da iguana do rock, no momento mais rock'n'roll do dia. Nada como um show proto-punk para desintegrar de nossas mentes uma festa pscicodélica. Iggy e os Stooges no final da década de 60 mostraram que rock'n'roll é destruição, é dançar, se jogar, gritar. Iggy, trinta e cinco anos depois, continua a nos ensinar tudo isso, ali, na nossa frente.

a senhora kin gordon do sonic youthSai o cru e destruidor e entra a banda que foi capaz de reinventar, através de guitarras distorcidas, efeitos e desafinações, a (des)construção do rock no início da década de 80. Meu primeiro show do Sonic Youth, uma de minhas bandas favoritas de todos os tempos. A banda não se importou com o fato de que era apenas a segunda vez que eles vinham ao Brasil em mais de vinte anos de estrada. Em outras palavras, focaram seu show em músicas do disco novo, de 2004, Sonic Nurse. Pouca gente escutou este disco e hits esperados como Diamond Sea e Sugar Kane foram ignorados. A banda focou toda sua energia nas guitarras e nas longas distorções e experimentações, deixando pouco espaço para o rock'n'roll. O pouco convencional tomou conta, mesmo quando resolveram tocar alguns de seus antigos clássicos, como Schizofrenia e Teenage Riot. Iggy não deixou pedra sobre pedra, o Sonic fazia apenas vibrar as pedras. O ponto alto do show foi quando a cinquentona Kin Gordon assumiu os vocais, cantou e dançou na frente da platéia, mostrando simpatia no único momento de interação com público. O fato é que depois de dois shows onde a platéia participou ativamente, seja dançando, cantando ou se deslumbrando, assistir ao show do Sonic Youth naquele momento foi como ir para o lounge, sentar no sofá e tomar uma coca-cola gelada.

trent reznor emocionou este que escreveTrent Reznor, o demente por trás do NIN, seria o próximo. O último show da noite era o que eu menos esperava, apesar de já ter adorado a banda e escutado seus discos exaustivamente. Errei deliciosamente em não esperar nada. Foi um show violento e agressivo, graças a maioria das canções do NIN, que extrapolam ao vivo o seu peso e agressividade, tanto na tríade guitarra-baixo-bateria quanto nas letras. Foi um show belo e introspectivo, graças a performance de Reznor que parece viver intensamente as letras ao cantar, em especial no momento mais calmo do show ao interpretar a canção Hurt que, segundo Johnny Cash, é a mais verdadeira canção anti-drogas já composta. Vai ser difícil esquecer as esculturas verticais que mudam de cor no meio do palco, as luzes e os lasers que contracenavam com a escuridão, com a platéia, com as músicas e com a silhueta dos integrantes da banda. O NIN fechou o festival como deveria, apresentando o show com o visual mais legal que eu já tive a oportunidade de assistir ao vivo.

Fim do festival, de volta pro carro, subir o morro, pescoço dolorido, ser os últimos a sair do estacionamento, chegar em casa às 5 e meia da manhã, um sorriso enorme de satisfação rasgando o rosto. Que bom seria se tivéssemos mais festivais como este por aqui.

17 de dezembro de 2005

O dia em que São Paulo foi Seattle

Hoje faz duas semanas que aconteceram os shows do Pearl Jam,em São Paulo. Ok, passou tempo demais, mas algumas coisas mesmo com atraso não devem ser deixadas para trás.
Dia 02 de dezembro foi o dia que São Paulo se transformou em Seattle: no tempo (céu nublado, chuva fina o dia todo), no modo de vestir já que muita gente se reencontrou com as velhas camisas de flanela que há muito tempo estavam esquecidas em algum lugar do guarda-roupa e na música; show do Pearl Jam.
Fazia mais de nove anos que eu estivera no Pacaembu, vendo shows que hoje não fazem mais nenhum sentido para mim.Mesmo assim consegui me lembrar daquela mesma movimentação, daquela quantidade fantástica de pessoas indo em busca da mesma coisa que havia visto anos antes.
Desci a rua lateral do estádio com esperanças de ver Mark Arm berrando no palco com seus companheiros do Mudhoney. Cheguei às 18h40 e estranhei de ver o palco vazio. Quando encontrei um lugar mais ou menos para ficar comecei a perguntar ansiosa para meus companheiros: cacete, cadê o Mudhoney?.
Os minutos passaram, a arquibancada começou uma hola que durante um tempo animou a multidão.Enquanto isso eu continuava intrigada com o pensamento será que cortaram o Mudhoney na última hora?, depois descobri que era mais ou menos que tinha acontecido.
Às 19h30,britanicamente, conseguia-se ouvir as primeiras notas de Go. Sim, o sonho de muitos que estavam ali estava virando realidade: Eddie Vedder, Stone Gossard,Jeff Ament, Mike Mc Cread e Matt Cameron (conferir se é ele mesmo) estavam no palco básico do Pacaembu.Básico porque não havia nada além de uma iluminação comum.
Go puxou uma verdadeira enxurrada de músicas que os fãs queriam ouvir. Músicas muito conhecidas para quem conhece Pearl Jam: Hail Hail ,Animal,Better Man, Corduroy,Do the evolution,Last kiss, Given to fly. Essas foram um aperitivo para quem estava ansioso, à espera das seis músicas do Ten,primeiro disco da banda, que foram tocadas no show de Curitiba. A cada cidade, aliás a cada dia o set list mudava. Even flow, tocada mais no início do show foi a primeira a puxar as outras:Porch, Once, Alive, Black e Jeremy.
Mas tudo isso foi estupidamente prejudicado pela péssima qualidade de som que de acordo com um amigo era um som de Tom Brasil Nações Unidas num lugar 10 vezes maior. De onde eu estava ouvia-se duas coisas: a voz do Eddie Vedder e alguma coisa que parecia uma vibração de baixo e bateria juntos, só não se sabia o que era o que. Isso melhorou um pouquinho na segunda hora de show, mas mesmo assim tinha músicas que demorei tipo uns 30 segundos para reconhecer (bizarro!).
Se o som estivesse bom eu não me importaria com o fato de ter ficado num lugar de onde não se via quase nada. Contentei-me em olhar para o telão, que também foi colocado numa altura ridícula, e contei com meu irmão que me ergueu umas 3 vezes para ver o palco.
Eddie Vedder não decepcionou: falou português em vários momentos, apesar de não se entender muito o que ele dizia o esforço deu chame às tentativas. Eddie está com o mesmo cabelo de 13 anos atrás, faz a mesma cara de psico enquanto canta, a diferença é a barba e 13 anos a mais na idade.
Um momento que eu não esperava foi a homenagem ao Johny Ramone. Vedder apareceu no palco sentado num banquinho empunhando um violão e dizendo em português que iria tocar uma música (Man of the hour) para um amigo de quem ele sentia muita saudade. O público respondeu a frase com um sonoro Hey, ho! Let´s go. Na seqüência veio a cover de I believe in miracles, que em Porto Alegre rolou com participação do Mark Ramone.
Apesar do som horrível, do palco que eu não conseguia ver, dos gigantes que sempre paravam na minha frente eu consegui me emocionar em 3 momentos: quando ouvi as primeiras notas de Given to fly, depois em Alive, música que a galera cantou quase em unísono e mais tarde em Black quando eu ouvi as palmas mais cadenciadas e unidas da minha vida. Dava para ouvir algo que se traduzia como um tcha contínuo que não me lembro quando parou.
Jeremy foi tocada quase inteira com os holofotes do estádio ligados. Sinal de que tudo seria pontualíssimo do início ao fim. Deu para ouvir Eddie Vedder dizer que não demoraria outros 15 anos para voltar ao Brasil.
Abstraindo a historinha que tenho com a banda concluo:
1º A voz dos moradores do Pacaembu ganhou disparado dos fãs do Pearl Jam que quase imploraram para a realização do show. O show aconteceu, mas com uma qualidade de som pífia, coisa que o público que pagou 120 pila + taxa de conveniência que a ticket mercenária master cobrou ,não merecia.
2º O Pacaembu é terrível para shows e eu não me lembrava mais disso.Não sei se repetiria a dose.
3º Saí pensando que teria sido mais interessante, cômodo e barato se eu tivesse ficado na arquibancada. Realmente os fãs de rock são mutantes. As pessoas vão mais bonitas a shows hoje do que iam há 10 anos.
4º Droga, perdi o Mudhoney! E não foi por atraso meu. Encontrei uma amiga que me contou que a banda tocou meia hora, das 18h às 18h30, uma hora antes do previsto e divulgado.
5º Não consegui manter a abstração até o fim e vou dizer que apesar de tudo de ruim que citei sou doente, me divirto em shows. Foi bom ver a banda do início da minha adolescência.

16 de dezembro de 2005

Shadow of The Colossus

Videogame é videogame, arte é arte, sempre foi assim. Pelo menos até Shadow of The Colossus ter sido lançado para PlayStation 2.


:: Complexo em toda sua simplicidade

É impressionante como um jogo tão simples pode ser tão complexo, lindo e marcante. Um jogo convencional dá a impressão de ter sido criado a partir de uma boa idéia que, para ser mais viável comercialmente, acaba sendo inundada por detalhes, tramas paralelas, histórias que se cruzam, reviravoltas e tudo mais. Aparentemente, tudo que puder complicar será bem vindo. Shadow of The Colossus é tão simples que a impressão que se tem é que o diretor Fumito Ueda teve a idéia sozinho, num quarto escuro, antes de dormir e pensou: "Essa idéia é boa demais para ser mexida. Vai ser exatamente assim como eu pensei, sem nenhuma complicação, nenhum detalhe, nada. Está perfeito." E estava mesmo.


:: História simples, experiência emocionante

A história começa com um herói sem nome, batizado apenas como "Wanderer" (andarilho), chegando em seu cavalo a uma linda e enorme terra desconhecida. Ele carrega em seu colo o corpo inerte e desacordado de uma menina de longos cabelos negros, a quem o garoto pretende devolver a vida. Ao atravessar uma belíssima e enorme ponte (um dos momentos mais graficamente impressionantes da minha história com os videogames), os três chegam a um templo, onde acontece um pequeno diálogo com uma voz retumbante que parece vir de dentro do próprio templo.

Aliás, é importante ressaltar que esse é um dos jogos mais simplistas desde a era do Atari. Todo o diálogo que acontece não é nem uma palavra além do estritamente necessário, e mesmo assim tudo é dito num tom poético e as falas do "deus" do templo são em linguagem antiga, bíblica, medieval. Sei lá. É lindo.

Nesse diálogo o garoto explica que a menina em questão (que também não recebe um nome) morreu de forma injusta, e que ele fará tudo o que for possível para restaurar a vida dela, pois acredita que a "voz do templo" tenha esse poder. A voz responde que isso pode ser possível, porém, há "um preço a se pagar" e "uma tarefa a se cumprir". A tarefa em questão é acordar e derrotar todos os dezesseis Colossi, criaturas magnifícas, tanto em tamanho quanto em complexidade e beleza. Assim, o jogo tem início.


:: A grama do vizinho nem sempre é a mais verde

A partir daí o mundo é seu. Você vai ficar boquiaberto com o mundo ao seu redor e com todos os seus detalhes, acidentes geográficos, colinas e despenhadeiros. Com cada árvore, com cada penhasco ou cachoeira. Tudo é deslumbrante. Tudo é impressionante. Não há inimigos menores para derrotar. Tudo que existe é você, seu fiel cavalo Agro e o mundo. Uma ou outra eventual águia ou um pequeno lagarto correndo por entre as pedras podem ser vistos, às vezes. Uma incrível sensação de liberdade toma conta do jogador, como se aquele mundo realmente existisse, como se a televisão fosse uma janela com vista para um ambiente fantástico, e real. Você poderia querer ficar dias apreciando a paisagem, e isso seria possível, mas você se lembra que tem um gigante a enfrentar.


:: À sombra do colosso

A luz do sol refletida pela espada sempre mostra a direção em que o próximo alvo se encontra. Indo nessa direção e desviando de quaisquer irregularidades do terreno, fatalmente se encontrá o colosso a ser derrubado. E o primeiro deles já chega para impressionar. Grande, lento e, de certa forma, vivo. A impressão que se tem ao chegar perto de um dos dezesseis grandes inimigos do jogo é exatamente essa: de que aquilo não é um modelo 3D animado e programado com códigos de computador que lhe conferem uma semi-inteligência artificial. A impressão que se tem é de que se está frente a frente com uma criatura viva, pulsante, que estava ali, à toa, sem fazer mal a ninguém, mas que por um motivo deve ser morta. Dá pena, gente. Muitas vezes dá pena. Eu, particularmente, nunca vi personagens com olhos tão sutilmente expressivos. Eles não têm sobrancelhas, tampouco pálpebras ou qualquer outra coisa ao redor dor olhos que pudesse lhes conferir emoções e expressões faciais. Mas mesmo assim é impossível não perceber algum tipo de sentimento naquele olhar. Seja de compaixão, de dúvida, de simples agressividade, mas todos eles têm sentimentos e, se você também os tiver, vai percebê-los.

A batalha consiste em achar o ponto vital da criatura, achar um meio de escalar até lá, se segurar firme enquanto o inimigo tenta com todas as forças lhe jogar longe e, por fim, cravar a espada sagrada nesse ponto (às vezes são mais de um no mesmo Colosso). Fazendo isso repetidas vezes o inimigo cairá no chão, sem vida. Seu espírito sairá do corpo do gigante, tomando conta então do corpo do herói, que aparece logo depois acordando no templo inicial (onde está a garota no altar), onde vai receber instruções, muitas vezes pouco reveladoras, para a luta contra o próximo Colosso.

Mas, verdade seja dita, às vezes nem dá vontade de lutar. Dá vontade de ficar correndo ao redor do colosso, observando seus movimentos, suas atitudes, suas expressões. Dá vontade de fazer com que ele tente te atacar, só pra ver o show de poeira, terra e pedras que voam do chão para todos os lados, a partir do ponto onde ele acertou. Dá vontade de subir nele só para ficar ouvindo as empolgantes músicas orquestradas que se alternam em cada uma das situações. Enfim, dá vontade de fazer o jogo durar para sempre.


:: Sinta

Faltam palavras para descrever esse jogo, e todas as que eu escrevi aqui estão desordenadas, pois é muito difícil analisar algo que deve ser sentido, e não entendido. É simplesmente a experiência mais gratificante que alguém pode ter segurando um controle de PS2. E, já que é impossível fugir do trocadilho, é um game colossal.

* * *

Mais Imagens:
(Clique para ampliar)














Ah, antes que eu me esqueça: todas as imagens desse post são realmente do jogo rodando, não de algum video, sequência em CG ou nada parecido. É tudo real.

29 de novembro de 2005

Surpresas, expectativas e som embolado


Por que raios a qualidade de som de festivais, em lugares abertos, só melhora na hora da última banda?

Nisso o
Claro que é rock não conseguiu se diferenciar de outros festivais novos ou velhos. Infelizmente. Penso como teria sido melhor o show do Sonic Youth se o som estivesse lindo como estava na hora do Nine Inch Nails.
E por falar em NIN que show foi aquele?
Visualmente, o palco
e a iluminação estavam perfeitos, o som também. Como se não bastasse Trent Reznor chega mandando Wish como um socão no queixo.
A banda teve tudo ao seu favor. Foi um puta show que também abriu meus olhos e ouvidos para um som que nunca dei muita bola e que daqui para frente com certeza vou prestar mais atenção.
Esse festival foi um dos que mais me surpreendeu. Minhas expectativas estavam todas sobre Iggy Pop e Sonic Youth, mas os shows de que mais gostei foram NIN e Flaming Lips ( e mais ainda do Flaming Lips). Gosto muito da Nação Zumbi, inclusive, foi ótimo entrar na Chácara do Jockey e vê-los no palco, mas fui ao CQÉR ver as atrações principais.


Logo depois da Nação, o Fantômas começou a tocar no palco 2. Não entendi nada. Esta hora estava procurando um lugar legal para ver o Flaming Lips. Sim, eu queria ver o show. E fiquei surpresa com a preocupação do Wayne Coyne para que tudo desse certo no show, fiquei alegre como uma criança ao ver os bichinhos de pelúcia, aquele solzinho fofo, os balões coloridos, o papel picado, o Wayne na bolha e a interação entre ele e o público. O repertório estava ótimo e incluiu dois covers improváveis,pelo menos para mim, Bohemian Rhapsody (Queen) e War Pigs (Black Sabbath) o mais bacana foi que
eu consegui ver o show inteiro do alto do meu 1,50 cm de altura. Isso é inédito. Normalmente, não vejo quase nada porque sempre entra alguém enorme na minha frente. Antes de começar o show até pensei que eu deveria fazer como a maioria das mulheres em shows e baladas de São Paulo: andar com aquelas botas plataforma de quase 20 cm, isso já me ajudaria bastante. Mas não precisei de plataforma, vi tudo: os bichinhos, o telão sincronizado com as músicas (viva Kraftwerk que faz isso há tempos e é maravilhoso!) Só me arrependo de não ter tentado ver tudo lá da frente, soube que estava tranqüilo e tinha uma galera bacana vendo o show.
Resultado: estou apaixonada por Flaming Lips. Nunca fui grande conhecedora e tampuco fã.
Se voltarem, com certeza, serei uma das primeiras a comprar o ingresso. Ah, e salve, salve Brian Molko que foi quem sugeriu a banda para tocar no Claro e ainda mandou uma boa definição do que é ver um show do Flaming Lips: é como ir a uma festa de criança viajando de ácido.

Depois de toda a fofura psicodélica do FL, a crueza do tiozinho mais inteiro, mais visceral e mais rock´n roll de todos: Iggy Pop.
E se no show anterior consegui ver tudo, nesse comecei a desejar a plataforma de novo. Vi o Iggy de muito longe, ele era quase que uma miniatura no palco. Uma miniatura que dava vários pulos usava calça justa e que no fim do show estava quase com a bunda de fora depois de ter caído nos braços do povo, literalmente.
Curti muito ouvir No Fun, I wanna be your dog e ouvi-lo reclamar, puto, após a penúltima música do show. Mas não me envolvi muito. Não sei explicar por quê.


Na hora do Sonic Youth, duas coisas em comum com o show do Iggy Pop: não me envolvi tanto e continuei pensando na plataforma de quase 20 cm que me ajudaria enxergar melhor o casal cabeludo Thurston Moore e Kim Gordon (Ela é fantástica! Quando eu estava aprendendo a tocar baixo queria ser ela quando eu crescesse). Nessa hora a decepção com o som do festival cresceu. Quase não dava para ouvir os agudos, o som estava abafado as loucuras guitarrísticas de Thurston Moore e Lee Arnaldo não ficaram nítidas como eles e nós que estávamos ouvindo merecíamos.
Por isso, sou obrigada a concordar com um amigo que diz que além de pagarmos caro nos contentamos com um som ruim só porque, dificilmente, veríamos bandas bacanas como essas aqui de novo.

Som meia boca na maior parte dos shows, ingresso caro, filas enormes para a cerveja noves fora line up ousado, pontualidade, boa quantidade de banheiros, boa localização dos palcos. O Claro que é Rock teve saldo positivo, mas precisa ficar mais atento com a qualidade do som, afinal manter essa tradição ruim
é sacanagem com o público e com as bandas também. O único festival que vi na vida que manteve som honesto da primeira a última banda foi o Tim Festival 2004, mas foi em lugar fechado. Já é hora dessa história mudar. Que tudo melhore ano que vem e que as bandas sejam tão bacanas como as da primeira edição.

O próximo post vem com o último grande show que verei este ano, o Pearl Jam que traz o Mudhoney abrindo todos os shows da turnê brasileira (corro o grande risco de gostar mais da banda de abertura que a atração principal, semana que vem eu conto).

28 de novembro de 2005

Saiu o CD novo do Pettit Project!!!

Como assim, "não conheço"? É uma banda legal! E é do Canadá, que nem esse tal de Arcade Fire aí que eu tenho certeza que tu ouve!

Eles jogam PlayStation e falam de amor do jeito mais nerd possível.

Na verdade eles me conquistaram quando compararam "a menina que não deu atenção ao menino" a vilões de videogame, como Wario ou Dr. Willy ("You've gotta be an enemy like Wario or Doctor Willy") na música "99 Lives", do primeiro CD deles ("Cheerockarcy", 2004). Essa, aliás, é a música mais nerd do mundo, na minha humilde opinião. Tem até solinho de sintetizador imitando musiquinha do Mario. Nem Blind Guardian supera.

O estilo deles é PowerPop. Tem muito vocalzinho feminino, muito barulhinho maluco de sintetizador e muuuuuuita guitarra pesada pra equilibrar as coisas. Mas você não precisa se preocupar com isso se tiver o mínimo de sensibilidade pra entender que amar é mais difícil do que parece, principalmente pra quem é nerd. Se você ler a letra de "Simple Song, Simple Plan" (essa não entrou em nenhum CD) e não se emocionar com a historinha, você com certeza é o tipo de pessoa que encontra um cachorro na rua e dá um belo chutão na barriga. Seu insensível.

Mas, enfim. Eles acabaram de lançar CD novo ("6 Week Summer Vacation in Hell") e o disquinho já está à venda nesse endereço. Quinze doletas.

Mas é claro que você pode procurar o CD na Internet. Afinal, o importante é ouvir e gostar, né?

PS.: Alguém aí falou em Kuat de Laranja?

16 de novembro de 2005

We Want The Airwaves

Mr.Programmer I got my hammer and I'm gonna smash my smash my radio!Fazia tempo que não se via tantos shows de qualidade num mesmo ano em solo paulista. De medalhões como Pearl Jam e Strokes, divindades como o MC5 e Iggy Pop, metaleiros das antigas como o Judas Priest e Whitesnake, e até os obscuros e sensacionais King Khan & BBQ. Os roqueiros da cidade de São Paulo tiveram um ano cheio de escolhas, como há muito tempo não se via.

E eis que, contradizendo toda esta enchurrada rock'n'roll na cidade, surge a notícia de que o dial 107.3 da rádio mais roqueira da cidade está para ser comprada e substituída por uma programação voltada 24 horas para o esporte. A idéia do Grupo Bandeirante (que faz parte de um conglomerado já detentor de rádios como a 89fm, Alpha e Nativa) era tirar a Brasil 2000 do ar e colocar em seu lugar a Rádio Band Sports.

Voltando dois anos atrás, com Kid Vinil tomando as rédeas artísticas da rádio, escutar a Brasil 2000 era um prazer. Por um curto período, a Brasil 2000 voltou a ser uma rádio voltada para um público mais segmentado, com cara de college radio, tocando músicas diferenciadas, sendo a única rádio a abrir espaço para o som independente. A Brasil 2000 nos fez acreditar que existia vida inteligente no rádio. Mas logo no fim de 2004 as coisas começaram a mudar. A entrada de músicas comerciais, a saída de programas comandados pelo Kid Vinil (o principal mentor da mudança para um seguimento menos comercial), a entrada de quatro horas diárias de notícias produzidas pela Band News, a saída do programa Garagem (agora no UOL) em 2005, mostraram ao ouvinte mais antenado que alguma coisa já estava muito podre no reino da Dinamarca.

Os boatos sobre a venda da Brasil 2000 diziam que a rádio, já em Dezembro, deixaria de existir. Entretanto, alguns fatores impedem que esta venda seja concretizada. Por ser uma emissora educativa, uma rádio mantida pela Faculdade Anhembi Morumbi, ela não pode ser vendida. Portanto, acredito eu, a novelinha da venda da rádio ainda vai se desenrolar por algum tempo. Tanto que já tem gente dizendo que a rádio, na verdade, vai continuar com sua programação atual, apresentando apenas algumas mudanças.

Bastidores, dinheiro e luta pela audiência à parte, eu ando cada vez mais convencido de que se você quiser ouvir uma rádio que toque um som que é a sua cara, a internet é o caminho. Não estou falando de abaixar mp3 pelo Soulseek, mas sim ouvir as rádios online como a Woxy e a Indie 103.1 (confira os links aqui mesmo no Indigesto). A americana Woxy, por exemplo, sabendo da existencia de um público cativo aqui do Brasil, começou há algum tempo a colocar no ar vinhetas em português. O único programa que prestava no rádio paulista, o Garagem, agora está no UOL, sendo transmitido online e, o que é melhor, o programa agora é filmado.

Claro que para ter acesso a isto é preciso ter um micro e uma boa conexão, mas este é o preço a se pagar se o desejo for escutar algo diferenciado e bem distante das notícias, das músicas populares e dos jabás.

15 de novembro de 2005

"Como foi o TIM Festival em São Paulo?"

arcade fire no rioTenho de voltar a postar alguma coisa antes do Indigesto ficar famoso e começar a faturar alto. Do jeito que a coisa está, a Cátia vai poder reclamar de uma porcentagem maior nos lucros vindouros. Já com a porcentagem do Fábio não me preocupo muito, é só pagar um Kuat com laranja que é mais do que ele merece. Brincadeirinhas e atrasos à parte, o Tim Festival 2005 com os Strokes já foi e, antes de postar algo sobre o Claro que é Roque, quero deixar registrado algumas coisinhas sobre minha passagem pelo Tim. Se quiser pular o blá-blá-blá, no final do post coloquei as notas dos shows, de zero a 10.

Chegamos ao local do festival com a idéia de explorar as "especialidades" da redondeza. Após um de nós três saborear um misto quente suspeito, um outro uma latinha de cerveja quente por R$2,50 e o terceiro ficar apenas divagando em tomar uma dose de um bom whisky, fomos para a enorme fila ouvir o final da apresentação da Nação Zumbi. Escutei as últimas músicas do lado de fora, na fila para entrar, orientado por vendedores de capa de chuva que a vendiam por R$3 no final da fila e por R$10 no início da fila. Minhas dúvidas quanto ao local ser ou não um lugar aberto acabaram ali. Pensei muito se não valeria a pena levar uma capa."Dane-se", pensei, se minha amiga não estava nem aí pra aguaceira que poderia vir a cair, não sou eu que vou demonstrar toda a fraqueza de um homem precavido.

Entrando no local, teve início o show da inglesa MIA. Não fazia idéia do que esperar até começar a ouvir uma batida eletrônica que me fez lembrar muito a batida do funk carioca. Havia algumas percussões tribais, mas que pareciam estar ali apenas como figurantes. Todas as músicas eram ritmadas pelo "batidão". O som era todo vindo de um DJ e de sua mesa, enquanto MIA cantava seu rap e dançava uma coreografia que, pra mim, era inútil, naquele palco gigantesco. Não entendi nada e acabei gritando com o dedo do meio estendido : "Eu quero é ROQUE!"

Fora MIA que aí vem o Arcade Fire. Ajudado pela amiga fanática por Arcade, fomos abrindo espaço entre a multidão, chegando quase a encostar na grade.
Abro aqui um parenteses. A amiga encostou-se à grade, viu a turminha VIP que estava ali e nos deixou revoltados ao contar que havia um espaço enorme na frente do palco destinado aos Vips e, adivinhe, poucos "vips". Só no Brasil que organizadores vendem 30.000 ingressos para a pista custando R$120 e não dá a chance para estes, que são os que pagam todo o Festival, chegar perto do palco, apenas para agradar alguns 100 mais afortunados. Fecha o parenteses.
Wake Up! Essa foi a música que deu início ao fantástico show da banda canadense Arcade Fire, uma das bandas mais originais a surgir nos últimos anos. Nove ou oito integrantes vestidos de preto, instrumentos de cordas, de percussão, acordeão, vocais, ótimas músicas, simpatia e muita energia. Suas músicas, de camadas melancólicas, alegres, dançantes, enérgicas, emotivas, fazem com que a banda funcione muito bem ao vivo. O Arcade Fire nos da aquela chance de se surpreender com a performance enérgica de seus integrantes, do tesão que eles têm em estarem ali tocando, e também nos deixa livres para dançar muito, esquecendo a gostosa bagunça que acontece no palco. Rebellion (Lies) foi a canção escolhida para fechar o show, um dos melhores já visto por este que vos escreve. A ótima apresentação da banda foi confirmada por pessoas que estavam ali apenas para ver os Strokes e que acabaram por se surpreender com o Arcade Fire.

O show do Kings Of Leon serviu como uma pausa para mais umas cervejas, umas mijadas e para sentar no chão e conversar, à espera dos Strokes.

94,7% das pessoas que ali estavam foram para ver os Strokes, portanto chegar na linha de frente foi bem mais difícil desta vez. Os inimigos eram muitos, todos querendo um pedaçinho de terra que fosse. E lá vem os rapazes, e lá vêm os gritos. Histéricos. De moças e rapazes. Gritos que me fizeram lembrar aqueles shows dos Beatles onde não se houve a banda tocando e sim apenas os gritos que parecem estar saindo por um orifício bem menor que a boca. Um cara do meu lado não parava de gritar a plenos pulmões.
Abrindo mais um parenteses. O problema que antes eu apenas suspeitava agora ficou mais cristalino, o som que vinha do palco estava muito baixo, bem longe do que se pode esperar de um festival para trinta mil pessoas. Parenteses fechado.
A banda entrou no palco e, se ali no palco estivesse um telão em vez da banda tocando, a diferença seria mínima. Eu senti falta daquele algo mais que nos faz estar ali pra ver uma banda ao vivo. Os Strokes não tem este algo a mais. O que ajuda os Strokes é a quantidade de músicas boas e de hits. E os fãns. Gosto de seus três discos de estúdio. Discos com melodias que me faz lembrar o pós-punk de bandas como Television e a simplicidade cheia de energia de Lou Reed, tudo muito bem distribuído em um som próprio. Eu gostaria de ter visto um pouco desta energia, que funciona tão bem nos discos, ser extrapolada no palco. Talvez com um peso maior, com mais pegada, não sei dizer. É o que sempre espero de uma banda com influências tão próximas do punk rock. O que importa mesmo é que o show pragmático dos Strokes funcionou muito bem para a grande maioria dos presentes, que estavam ali apenas para ouvirem os Strokes e todos os seus hits.

A capa de chuva não fez falta alguma, ainda bem.

Notas:
Nação Zumbi: não se aplica
Mia: 0.3
Arcade Fire: 9.6
Kings Of Leon: não se aplica
Strokes: 6.9

30 de outubro de 2005

Shows de bandas que não somos fãs

É muito interessante ir a um show de uma banda que pouco se conhece. Geralmente, a gente fica meio perdido por não conhecer as músicas pelas primeiras notas ou se sente um pouco estranho por estar entre algumas pessoas que cantam tudo em coro. Mas por outro lado é legal pra caramba porque não há compromisso e sim o lance de estar disposto a se deixar levar. Coisa não muito difícil de acontecer quando a banda a subir no palco é o Television, da qual eu nunca fui fã. Conheço algumas músicas, em especial Call Mr. Lee e tenho muito bem gravado nos meus arquivos musicais cerebrais o lindo solo de guitarra de Mr. Tom Verlaine.
Esse é um cara à parte. No geral os guitarristas curtem fazer tipo, fazem careta, uma certa pose ao tocarem e às vezes os que mais fazem pose são os que menos merecem atenção. Mas Tom Verlaine, não. Ele dá um show sozinho, toca pra caralho como se nada estivesse acontecendo. São várias notas num pequeno compasso sem o virtuosismo punheteiro e chato de muitos. Não é só a técnica e sim a capacidade de juntá-la a emoção, além de saber a hora de arrasar num solo ou simplesmente fazer uns barulhinhos. (Nunca gostei de virtuoses, no geral só se exibem, mas não contagiam...).Vale super a pena ver um show de uma banda importante mesmo que pouco conhecida para nós.

Durante o show
Cenas interessantes: nunca vi uma concentração tão grande de all star converse por metro quadrado antes -no qual o meu par se incluía. Enquanto Verlaine nos jogava na cara seus lindos solos e brincadeiras guitarrísticas com a maior cara de paisagem, as centenas de pares de all star se movimentavam, um casal dançava insinuante e dois perdidos, quase desconhecidos assistiam ao show. Era o duo franco-alemão, Stereo Total que tocariam no dia seguinte na mesma Choperia do Sesc Pompéia.
Ele, um cara grandão, cabelo desgrenhado, ela ...não vou falar de outra mulher para não parecer má,mas que ela é assim, hum, estranha, isso é. Assistiam ao show mais ou menos como eu:aparentava ser a primeira vez, não cantarolavam nenhuma música,permaneceram estáticos por todo o show, -eu pelo menos me mexi um pouco e cantei Call Mr.Lee.
As perguntas possíveis são: eles assistem qualquer show com essa frieza? É coisa de europeu? Eles não são fãs do Television? Ok,isso pouco importa.
Em paralelo via-se fãs de todos os tipos. Os moderninhos/estilosos ?acho que esse grupo passa a maior parte do tempo preocupado com o visual - os básicos (acho que me incluo nesse), os que visivelmente gostam da banda, são mais velhos, cantam as músicas e com certeza vieram direto do trabalho o que justifica a bolsa/pasta no ombro e a camisa social manga curta. Sem falar nos mais velhos locões que tinham cara de que curtiram a banda no fim dos anos 70 e não têm e, provavelmente, nunca tiveram nada de hiponga.
No fim das contas acho que poucas coisas são tão boas na vida como ir a shows. A gente se diverte ouvindo o som e vendo a banda, se desconecta dos dramas sócio-existenciais, morre de rir observando a diversidade de pessoas, mesmo que não nos identifiquemos com elas, pensamos como os europeus se divertem...É muito bom e que venham outros.

Pearl Jam, parte III e Mudhoney


O anúncio do início da venda de ingressos para o show do Pearl Jam parece ter botado fim a longa novela que assistimos capítulo a capítulo sobre se a banda tocaria ou não, no Pacaembu.
E com isso veio a loucura. Na quarta-feira, primeiro dia da venda de ingressos, as quatro capitais juntas -São Paulo, Rio, Curitiba, Porto Alegre- somavam o total de 10.000 ingressos vendidos. Parecia pouco, até eu ver na internet, sexta de manhã que dos 80.000 ingressos colocados a venda em São Paulo 25.000 já tinham sido vendidos.
A surpresa ficou ainda maior quando soube por um amigo, que fez a gentileza de ir comprar o meu ingresso, que os ingressos meia-entrada do dia 02/12 já tinham se esgotado. No sábado, não havia mais um mísero bilhete de estudante disponível.
Hoje, domingo, vi na internet que a metade dos ingressos para as apresentações de São Paulo, ou seja 40.000, já se foram. Nada de tão surpreendente pela velocidade com que os ingressos foram acabando.
Sexta-feira ao voltar do trabalho, subi a Avenida Paulista, que para variar estava bem travada, culpa do excesso de carros e da chuva, vi que a fila na FNAC Paulista estava quase chegando na calçada.
As perguntas que não calam são as seguintes: há 13 anos vários fãs esperam a vinda do Pearl Jam para o Brasil,mas será que o público que estava à espera desde 1992 é mesmo hoje em dia? Quem são essas pessoas? É o tempo de espera o principal responsável por essa corrida ou as rádios que estão martelando o assunto o tempo todo?
Mas disso tudo o maior presente, e que ainda estou custando a acreditar, é que o Mudhoney vai abrir todos os shows do Pearl Jam no Brasil. Há quem ache que era o Pearl Jam que deveria abrir para o Mudhoney -se duvidar até o Eddie Vedder concordaria com isso.
O Mudhoney já passou por aqui e Mark Arm esteve no Brasil há pouco tempo com o MC5. O Pearl Jam todo mundo já sabe.... Mas juntas é a primeira vez. O mais interessante seria vê-las separadas.São pegadas diferentes e públicos diferentes. A quantidade de pessoas que conheço que vão ao show do Pearl Jam e nunca ouviram Mudhoney - alguns nem nunca ouviram falar...um sacrilégio! - é enorme. Já que elas vêm juntas é agradecer, aproveitar e pensar anos depois que o segundo semestre de 2005 foi histórico em quantidade e qualidade de shows internacionais.

22 de outubro de 2005

Novela e coisas que não entendo

Semanas se passaram e a novela Pearl Jam continua. Apesar de o prefeito José Serra ter autorizado o uso do estádio do Pacaembú para o show, a CIE Brasil responsável pela vinda da banda ao Brasil ainda não deu a última palavra sobre a decisão de Serra sobre o uso do estádio no período das 19h as 21h45.
No começo eram duas datas confirmadas para o estádio do Pacaembú, até aparecer um show da Mix no meio do caminho para enfurecer os moradores do bairro e fazer o prefeito socar a mesa e dizer que shows estavam proíbidos para o local a apartir daquele momento. Aí começou o pânico de fãs -que como eu, estão à espera do show há uns 13 anos - de terem que ir para outras capitais para ver a banda tocar, por causa da hipótese de cancelamento do show em São Paulo.
A encrenca resultou numa enxurrada de e-mails direcionados ao prefeito, um blog que há umas 2 semanas já tinha recolhido mais de 3.500 assinaturas de fãs pedindo a liberação do Pacaembú e até uma concentração de fãs na porta da prefeitura.Um dos problemas para se fechar um lugar para a realização do show é que o Pearl Jam não toca em espaços com capacidade superior a 40 mil pessoas, parece que já aconteceram "tragédias" em locais que concentraram públicos maiores que esse em shows deles.O desfecho da novela deve acontecer essa semana. (Dedinhos cruzados!)

Mudando de assunto...
Não consigo entender o louco entusiasmo das pessoas pelo Strokes. A banda é legal, muito bom para dançar na balada,mas... é só.

Também não consigo entender o porquê do desejo incontrolável de transformar o Arcade Fire em "hype" como diria o apaixonado Lúcio Ribeiro. Apesar de eu estar me apaixonando por Funeral, a cada ouvida.


Já estou com o ingresso do Claro que é Rock em punho, esperando ainda, tranqüilamente ,o dia em que verei Iggy & the Stooges, Flaming Lips,com o homem bolha (haha), Sonic Youth e o psicho Trent Reznor e seu Nine Inch Nails todos juntos.

Agora é esperar o post do Fred contando como foi o Tim Festival Edição Especial -SP.

21 de setembro de 2005

Essa é para lavar a alma!


Essa eu não poderia deixar passar batido: Flaming Lips, Sonic Youth, Iggy Pop & Stooges, Nine Inch Nails , no Claro que é Rock, é para matar de alegria qualquer fã tupiniquim de música alternativa. Mais duas bandas completam as atrações internacionais: Suicidal Tendencies e Good Charlote. Aparentemente, vai ser no velho e massacrante esquema de maratona porque tudo isso rola no dia 26 de novembro, num lugar nunca antes explorado para eventos desse tipo, a Chácara do Jockey, no Morumbi. Dia 27 é a vez dos cariocas se divertirem, na Cidade do rock. Quando soube da confirmação do Nine Inch Nails não imaginei que as bandas que completariam o elenco do CQÉR seriam deste nível. Sinceramente,esperava bandas menores mas não menos legais,como o Interpol por exemplo. Os shows nacionais ficam por conta da velha e boa Nação Zumbi, Cachorro Grande e das bandas escolhidas pela organização do festival durante a turnê do Placebo, em maio.
Os ingressos começam a ser vendidos na primeira semana de outubro.É torcer para a facada não ser tão grande.

CRF

Quando não erram pela falta é pelo excesso. Ano passado foi o alvoroço pelo Pixies e um planejamento errado desde a hora de vender ingresso. Era site fora do ar, link de venda bloqueado no horário em que os ingressos começariam a ser vendidos -de acordo com a divulgação dos organizadores-, filas quilométricas em Curtiba e um lugar pequeno demais para a avidez de fãs que desejavam ver o retorno e a histórica vinda do Pixies ao Brasil.
Resultado: o show foi transferido para a Pedreira Paulo Leminski ,mais ingressos foram postos à venda para a felicidade daqueles que já estavam curtindo a tristeza de perder um grande show. A terceira edição do CRF,antes CPF,, traz a história ao contrário. Da grande Pedreira o evento foi transferido para um lugar menor,o Curitiba Master Hall. Do alvoroço provocado pelo Pixies vemos a pouca empolgação dos fãs do Weezer que é a atração principal do CRF. E ao invéz de ingressos em falta,
ingressos que sobram aos montes.
Se para o Weezer a procura está pequena, como estará a procura para Mercury Rev e Raveonettes? Os motivos para esse "fracasso" seriam o excesso de shows nesse segundo semestre? O último disco meia boca do Weezer? O preço do ingresso+viagem+hospedagem na capital paranaense???? Ou tudo isso junto? É torcer para o CRF conseguir fazer tudo dar certo ano que vem, porque os organizadores devem estar meio cansados de erros seguidos (e nós também).

9 de setembro de 2005

Porque eu quero ver o show do Pearl Jam


O dia que milhares de pessoas ,inclusive eu, esperavam há anos finalmente vai chegar e está até marcado. Dois de dezembro,no Pacaembú. Sim, incrivelmente estou falando do Pearl Jam. A primeira banda decente que curti na vida, depois da minha fase queima filme em que ouvia metal (nossa ! parece que isso é lenda...se tiver alguém aí que curta metal, me perdoe). "Ten" foi o primeiro vinil que comprei juntando a grana do lanche da escola.Ainda lembro que comprei o disco num dia depois da aula, numa loja que vendia todos os gêneros musicais, mas que dava um certo espaço para o Rock,porque os vinis ficavam expostos na parede da loja.
Isso foi em meados de 1992. Quando, supostamente, da galera que eu conhecia, só eu conhecia a banda (que pretensão!). "Alive", era o primeiro clipe do Pearl Jam que rolava meio que perdido na programação da MTV - naquela época a recepção do canal era horrível, por isso a pretensão de achar que só eu conhecia a banda.
Aquela imagem preto e branco com uma onda sendo a primeira cena do clipe, em seguida, um riff de guitarra marcante e umas cenas toscas de show que preenchiam todo o espaço da música ficaram retidos na minha memória musical.

Depois disso as minhas anteninhas ficaram bem ligadas para tudo o que vinha do Pearl Jam e também para tudo que vinha de Seatle. Como conseqüência disso conheci o Nirvana,que logo caiu nas graças de todo mundo- só anos mais tarde eu entenderia por quê- o Alice in Chains,o Soundgarden, mais tarde o ótimo Mudhoney e até o Screaming Trees.
Se a primeira música que me chamou atenção foi "Alive" depois vieram "Even Flow", "Jeremy" e "Black" -passei a detestar as últimas duas porque tocaram à exaustão,na MTV e depois em algumas rádios. Comprei o disco conhecendo praticamente duas músicas, naquela época não tinha internet, MP3, nem na imaginação .
Lembro-me bem do especial Seattle apresentado pelo Gastão na MTV, no qual rolaram algumas músicas do Acústico do Pearl Jam. Claro que neste dia estava com controle remoto em punho e VHS devidamente no video cassete esperando a hora H!

Ao mesmo tempo que aquilo era muito legal, passou a me irritar, depois, o fato de o assunto ser apenas Seattle, Pearl Jam e Nirvana, principalmente. Ouvir as músicas rolando em rádios como Transamerica, Jovem Pan me desagradou e principalmente à exaustão como acontecia.
Nessa altura a banda que eu achava que só eu conhecia já tinha caído no gosto do povo e inclusive uma moda pegou: as indefectíveis camisas de flanela apareceram com força acompanhadas de cabelos compridos, de calças e tênis esfolados -qto mais podre melhor!
Aos poucos eu comecei a me encher e voltar a minha atenção para outros sons embora continuasse a gostar da banda.Passada a febre das bandas principais de Seattle e a morte de Kurt Coubain,que querendo ou não marcou o fim da grande onda,deixei o Pearl Jam de lado para valer.Mas ficava alerta a cada saída de disco novo. Ouvi um a um, de Ten a Yeld,este último até com certo atraso.Hoje confesso que perdi um pouco da seqüência da discografia do Pearl Jam.
Com certeza, o "amor" que tinha pela banda não é mais o mesmo,mas a vontade de vê-la ao vivo não morreu .De certa forma fiz uma promessa ingênua para mim mesma,numa época ingênua ,de que veria o Pearl Jam se um dia viesse tocar aqui, não importava o preço do ingresso.O que eu não contava é que eles viessem num momento em que minha situação financeira não é muito diferente de quando "...(i was) sittin' home alone at age thirteen..."
Seja como for quero estar no Pacaembú, dia 02/12, para lembrar velhos e ingênuos tempos.Yeah!

18 de agosto de 2005

NiN no Brasil

trent reznorEsse ano vai servir para lavar a alma... Pelo menos em matéria de shows. Depois da sessão nostalgia com Marky Ramone e a sessão histórica com MC5, me aparece a notícia de que o demente Trent Reznor e seu Nine Inch Nails estão vindo tocar em novembro nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro para uma sessão, digamos, psicopata.

O ano era de 1993 quando escutei NIN pela primeira vez. Lembro de ter lido em algum lugar que o NIN era, na verdade, uma banda de um homem só, o já citado Trent Reznor. Foi ao escutar o primeiro trabalho de Reznor, Pretty Hate Machine de 1989, o que para muitos é, com razão, o mais calmo e "acessível" trabalho do NIN, que percebi como a música eletrônica podia ser algo muito além de música feita para se tocar em pistas. Ela também podia ser introspectiva, insana, dolorida e, porque não, dançante. Os álbuns seguintes de Reznor são uma história à parte, mais agressivos, com mais guitarras, mais influentes. Sujeitos como Marylin Manson e bandas como Korn não existiriam sem o NIN para influência-los. Infelizmente, diriam alguns.

O fato é que o cara que morou e gravou o disco The Downward Spiral na mansão em que a atriz Sharon State foi morta pelo psicopata Charles Manson está vindo aí. Entendeu agora por que chamei a vinda do NIN de sessão psicopata e Trent Reznor de demente? Histórias como estas são normais na obra de Reznor, sempre envolvido no lado mais sombrio da psique humana. E é assim que Reznor faz seus ótimos discos, escrevendo sobre dores torturantes e violentas causadas por alguma paixão perdida.

16 de agosto de 2005

MC5 e o velho Rock'n'Roll, baibe !

wayne kramerNeste último sábado, dia 13 de Agosto, numa antiga fábrica maquiada para suportar eventos, no bairro industrial da Lapa, uma das bandas mais influentes da história se apresentou para um público de mais ou menos 1500 felizardos, ávidos por rock'n'roll. O DKT/MC5 e o convidado Mark Arm, vocalista do Mudhoney, ofereceram um show histórico, simples, enérgico.

Todas as bandas escaladas representavam o que há de mais tradicional e influente no rock nos últimos trinta anos. Isto é, muito punk, surf music e rock de garagem. Nada de música eletrônica, de teclados, nada do novo rock, de som moderno, "Nada de chubi-chubi-chubiruba", como disse muito bem um amigo. Uma pena os sets terem sido muito curtos, Pocket Shows de no máximo 45 minutos para cada banda, enquanto que o set do DKT/MC5 teve mais de uma hora.

Meu destaque vai para os Autoramas com suas influências de Man Or Astro-Man e Ramones; o New York Dolls paulista, Forgotten Boys, sempre direto, sem frescuras; Los Pirata com seu surf-punk-folk cantado em portunhol; o punk rock do Objeto Amarelo e suas letras divertidas e estranhas; os gaúchos do não menos divertido Irmãos Rocha! com seu punk rock das antigas; e o hard-core do Muzzarelas e suas bombinhas ninja. A parte negativa ficou para a acústica que, em praticamente todos os shows, foi um grande problema. O som dos instrumentos estava todo misturado, parecendo com um radinho de pilha AM/FM ligado no máximo. O mais curioso é que no show de algumas bandas a acústica ficou boa, em especial no show do Los Pirata e do DKT/MC5. Provavelmente o problema tenha sido causado pela pressa da organização, sem dar chance às bandas fazerem uma simples passagem de som.

Quando o DKT/MC5 entrou já passava das 3 da madrugada e nada mais importava. Ver o público cantando junto as influentes e, ao mesmo, deconhecidas músicas do MC5 foi emocionante. O senhor garganta Mark Arm gritava como nunca, foi perfeito em sua modesta posição de colocar pra fora toda a energia revolucionária cantada há mais de 30 anos atrás pelo falecido Rob Tyner. Wayne Kramer dividia com Mark a tarefa dos vocais, sempre muito simpático com o público. O mesmo Kramer, a certa altura do show, separou a platéia, pedindo que cada um cantasse um trecho e, logo depois, pediu que todos cantassem juntos, inflamando a platéia ao discursar "With unity, we have power!". O MC5 trouxe, nem que por um instante, um poquinho da atitude politizada que sempre marcou a banda na década de 60. Voltaram para dois bis antes de finalmente irem embora.

Queria deixar só mais uma notinha sobre o Campari... Ô liquidozinho estranho esse campari, parece um xarope de groselha. Será por isso que botam um monte de gelo, pra disfarçar o gosto ruim?

Mercury Rev e Raveonettes

Aproveitando o último post da Cátia, gostaria de abrir um gigantesco parenteses e escrever um pouquinho sobre duas bandas que estão vindo para o Brasil e dar uma cutucada pessoal, de leve, no Curitiba Pop Festival deste ano.

Primeiro o Mercury Rev, banda americana formada no final dos anos 80 difícil de definir, composta por músicos versáteis com discos recheados de faixas que beiram ao pop, ao jazz, à psicodelia e ao puro noise. E muito rock. Às vezes parece Dinosaur Jr, às vezes parece Frank Zappa, é uma agradável mistura de muitos instrumentos, estilos e ótimas produções. E não existe ali mania de grandeza, nada é exagerado. No palco, dizem, tentam produzir a energia dos álbuns à enésima potência apenas com guitarras, baixo e bateria.

No mesmo dia em que o Mercury Rev se apresenta em Curitiba, os dinamarqueses dos Raveonettes tocam também pela primeira vez no Brasil. Mais conhecida, mais simples de definir, Raveonettes era, até o lançamento do último álbum, a banda mais próxima de Jesus and Mary Chain que eu consigo lembrar de ter escutado. Seu último trabalho é um disco com canções limpas que lembram o início do rock'n'roll, sem a pegada que caracterizou a banda, isto é, sem os três acordes das guitarras barulhentas, o baixo distorcido e os vocais a là irmãos Reid. Eu gostaria muito de ver um show dos Raveonettes que passasse bem longe da sonoridade do último disco.

O Curitiba Pop Festival, na minha humilde opinião, esta muito mal servido de bandas nacionais. Ultramen ? O Sete ? Leela ? Rádio de Outono ? Por favor, me parece ser uma das piores escolhas de bandas nacionais "independentes" da história. Bandas que nunca vão acrescentar nada, apenas o martírio de ficar esperando as atrações principais.
Boa sorte a quem for !

15 de agosto de 2005

Festivai$, perguntas que não calam e literatura

Depois de tanto tempo resolvi integrar a tríade de amigos internéticos que fazem esse blog.Nossa!
Campari Rock, Curitiba Rock Festival, Tim Festival, É claro que é rock...fora os shows avulsos como o Moby (um grande assalto!). É muito bom ver que finalmente a carência de festivais que antes deixava qualquer mortal, fã de música rock/pop/eletrônica/alternativa depressivo acabou. Agora tem de tudo e para todos os gostos.

Weezer,Raveonettes e Mercury Rev, em Curitiba. Strokes junto Wilco ou Kings of Leon ou Arcade Fire, aqui em São Paulo, na versão mini do Tim Festival que este ano rola na íntegra só no Rio. Moby no Espaço das Américas ou no aniversário do Hotel Unique para quem for muito dinheirudo, e talvez o Interpol no Claro que é rock fora todos os outros shows que ainda não estou sabendo e os que já rolaram no caso dos do Campari Rock. O grande problema vai ser escolher aonde ir em tão pouco tempo já que tudo rola concentrado em mais ou menos dois meses.

Mas não dá para não ficar meio bobo com preços. O comentário sobre ser dinheirudo em relação ao show do Moby, no Hotel Unique fica claro quando a gente lembra que o ingresso custa 300 reaizinhos!! Tudo bem que tem um open bar,mas... No espaço das Américas, o preço já cai para R$ 140. Acho que isso justifica o motivo do então Curitiba Pop Festiva, na edição de 2004, não ter fechado com o figuraça.

Confesso que a única coisa que me interessou, de fato, foi o Curitiba Rock Festival e mais ainda pela segunda noite que terá no palco Mercury Rev e Raveonettes, justamente, porque não tenho a menor idéia do que esses shows reservam. Assim como o mentor Sune Rose Wagner do Raveonettes também não sabe o que o Brasil reserva.

A pergunta que não cala...
Qual o real sentimento de Ian McCulloch pelo Brasil ? Será que é uma paixão irresistível pela nossa caipirinha ou quer acumular mais algum pecúnio para ter uma aposentadoria tranqüila?
Porque em quatro anos ele esteve aqui com o Echo and the Bunnymen e sem a banda umas 3 vezes...

Literatura
Pegando a onda do clima literário do post anterior fica a dica de um grande livro - que inclusive estou lendo- chamado "Os irmãos Karamázov"do escritor russo Fiódor Dostoiévisk. Conflitos familiares e muita alfinetada na fé católica dão o tom nesta longa história que posso voltar a comentar quando terminar de ler.



A Palestina em Quadrinhos

Com a retirada dos colonos judeus da faixa de gaza iniciada recentemente, nada mais atual do que ler Palestina - Uma Nação Ocupada, obra desenhada e escrita pelo jornalista Joe Sacco, lançado já faz um tempo aqui no Brasil pela Editora Conrad. Sacco viajou para a Cisjordânia a fim de retratar o lado da Palestina ocupada. O lado palestino é um dos lados que menos se vê nos jornais, os palestinos que acabam sendo o povo mais estereotipado pela mídia ocidental.

Ao conviver dias com os palestinos, morando em suas casas, comendo de suas comidas, escutando suas histórias, Sacco mostra como é a vida deste povo sofrido que luta desesperadamente a cada dia contra a falta de serviços básicos como luz e àgua, que vive a cada dia aterrorizado pelo poder bélico de Israel e de seus soldados. Voltar a viver como viviam antes da invasão de suas terras, este é o desejo de muitos que acabam lutando com pedras em punho contra tanques de guerra, este é o sonho de outros tantos que já não acreditam mais em um processo de paz e apenas tentam viver as suas vidas honestamente.

Me revolta saber, lendo o trabalho de Sacco, como vive o rico povo israelense, totalmente amparado pelo seu governo e de como vive os palestinos com sua pobreza, expulsos de sua própria terra, tratados de uma forma desumana. Me revolta mais ainda saber que a invasão é justificada, por muitos israelenses, por alguns escritos antigos de que a terra em que viviam os palestinos é uma terra sagrada e que tudo justifica a colonização destas terras e a expulsão, por qualquer meio, dos que lá viviam por séculos.

Sacco retrata histórias verídicas contadas por palestinos e vivenciadas por ele próprio e apresenta com detalhes o porquê de que tudo ali parece estar próximo a explodir, como um enorme barril de pólvora. Palestina - Uma Nação Ocupada é um trabalho jornalístico em formato de quadrinhos. Para mim, é um trabalho histórico sobre a situação na Palestina que abre os olhos como nenhum outro meio de comunicação já pensou em mostrar.

Para quem não tem dinheiro, dê uma passada na agradável gibiteca do SESI que fica na Avenida Paulista 1313, em frente ao metrô Trianon-Masp, lá estão à disposição para leitura as obras de Sacco e de tantos outros mestres dos quadrinhos.
Boa leitura !

Arcade em chamas no Festival do Celular

No ano de 2004 a banda canadense Arcade Fire lançou um álbum aclamado pela crítica chamado Funeral que só fui ouvir falar à uns 3 meses atrás. Com Soulseek em punho, abaixei o tal trabalho dos caras e me deixei levar facilmente pelo art-rock com muitas cordas e o ritmo disco, onde quem manda mesmo é o baixo e a bateria.

Tenho tendência a gostar mais de bandas que amplificam a importância da cozinha baixo-bateria, mesmo por que é ela que faz mexermos o esqueleto ou ficarmos batendo a ponta dos pés.
As músicas do Arcade apresentam um crescendo perfeito entre o começo lento e quase dramático e o final, quando a melodia chega a ferver. Você vai balançar a cabeça antes mesmo de perceber que ali no meio estão um violino, um violão celo e outras cordas, todos seguindo o ritmo poderoso e constante da cozinha.
O single Wake Up já virou hino e a faixa Rebelion (Lies) se encaixa perfeitamente em qualquer pista de dança.

Influências da banda?
O que me vem à mente neste momento seria a psicodelia do Flaming Lips (o vocal lembra muito), o glam rock do Bowie, a breguiçe do Roxy Music e a densidade de bandas post-punk como o Echo and The Bunnymen.
Pois é, ninguém mandou perguntar...

Dizem os felizardos que já viram a banda ao vivo que o Arcade Fire é um esporro de suor e rock'n'roll que, dependendo do local e do dia, até sete pessoas se misturam no palco, entre integrantes e convidados, tocando tudo e todos.

Agora, sem mais lamentações, está confirmada a presença do Arcade Fire no Rio de Janeiro, no Tim Festival, dia 22 de Outubro. Festival este que também anunciou a vinda dos Strokes e da já rodada banda Wilco. O festival acontece também em São Paulo dia 23 de Outubro e em Porto Alegre no dia 25 onde, por enquanto, apenas os Strokes estão confirmados.

Será que vamos ir comprar o ingresso para ver o Strokes e vamos voltar falando da banda desconhecida que ninguem nunca ouviu falar e que simplesmente arrebentou ?
Tomara que sim !

5 de agosto de 2005

Pipoca (Muito) Doce

Não tem desculpa. A Fantástica Fábrica de Chocolates (Charlie and the Chocolate Factory) foi reinaugurada pelo Tim Burton (para alegria dos 467.621.442.790 fãs dos filmes dele) e já está a pleno funcionamento, emitindo centenas de litros de gases achocolatados à atmosfera nesse exato instante. Onde? Ora bolas, eu estou falando de um filme, então é claro que é no cinema!

Bom, piadinhas infames à parte, o filme pode ser considerado algo muito bom e algo muito ruim, depende da ótica de quem está tecendo o comentário.

Os que estiverem afim de elogiar a obra poderão dizer que toda a magia do clássico da
Sessão da Tarde continua lá, intacta e quem sabe até melhorada pelo toque genial de obscuridade e sombras que só o nosso amigo Tim Burton consegue dar a um filme. Podem dizer que a atuação de Johnny Depp (Willy Wonka) está absolutamente genial. E podem também dizer que o garotinho (putz, esqueci o nome do moleque. Mas é o mesmo que trabalhou com o Depp em "Finding Neverland".) está terrivelmente foda (posso dizer isso nesse blog?) e totalmente profissional e emocionante, mesmo pra um garotinho daquela idade. E ainda podem acrescentar que os Oompa-Loompas ficaram muito legais multiplicados digitalmente (todos eles são interpretados pelo mesmo cara) e cantam musiquinhas muito mais animadas e trabalhadas, fazendo com que o povo todo corra desesperadamente às portas das lojas de CDs para adquirirem a trilha sonora. Sim, eles podem dizer isso, e tudo isso, minha gente, está certo.

Mas, por outro lado, todavia, contudo, alternativamente, os que não gostarem da refilmagem podem dizer que o lance das relações pai-filho entre Willy Wonka e seu pai,
Wilbur Wonka (interpretado por Christopher Lee), que foram tiradas sabe-se lá de onde pelo diretor, não tiveram "nada a ver com nada". Podem dizer que a "moral da história", que o filme passa na última cena tirou todo o lance meio psicótico do filme anterior. Podem dizer até que faltou o clássico cem por cento assobiável "Oompa, loompa, doompa-dee-doo" nas musiquinhas dos Oompas-Loompas. Enfim, há zárquons* de coisas que podem ser ditas por quem não gostou. E todas serão verdades, de certo ponto de vista.

O que pode ser dito para concluir é que eu gostei. Minha intenção com esse texto foi justamente a de dizer que quem não gostou possivelmente tem motivos pra isso, assim como quem gostou. Esse não é o filme perfeito desse século, nem mesmo pode-se dizer ao certo que esse é melhor do que o antigo, mas pode muito bem agradar a muitos. Incluindo você aí, que já está com olhos cansados de ler isso.

Então, como eu disse no início, não tem mais desculpas. Levanta daí e vai ver o filme!

Depois volta aqui e me conta em que grupo você resolveu entrar.

*Não sabe de onde raios eu tirei a palavra "zárquon"? Bah! Tá bom, no próximo post eu explico.

19 de julho de 2005

A Cidade do Pecado de Frank Miller

Estréia nos cinemas nesta sexta, dia 22 de Julho, Sin City, filme baseado na aclamada HQ em preto e branco de Frank Miller. O filme é dirigido pelo próprio e pelo mexicano Robert Rodriguez, o mesmo sujeito que dirigiu e produziu por míseros US$7000 um dos supostos filmes que Tarantino adoraria ter feito, El Mariachi, película de ação com influências de filmes de velho oeste, anime e quadrinhos, com muito sangue, tiros e humor.

Em
Sin City, Rodriguez e Miller jogam na tela várias histórias escritas e desenhadas à luz e sombras no papel por Miller e seu nanquim, histórias policiais vividas por personagens anônimos, verdadeiros outsiders, corruptos, violentos, apaixonados, em um palco onde o calor e a chuva se misturam num clima sempre noturno, a cidade do pecado, a
Sin City do título.

Depois desta empolgação toda, só me resta assistir ao filme.

Motor City Five

Isto é história.
Os integrantes remanescentes (dois dos integrantes originais, Rob Tyner e Fred Sonic Smith, já faleceram) da influentíssima banda americana MC5 estão vindo para o país do samba, no Campari Rock Festival. Eles vão tocar dia 13 de Agosto, no bairro da Lapa em São Paulo, na madrugada de sábado para domingo.

Em pleno flower power, com mensagens politizadas e parte integrante da contracultura nos EUA, muita droga injetável e o som revolucionário e furioso de um liquidificador atômico misturando o soul de James Brown, o jazz de Coltrane e os três acordes do punk rock, isso a quase dez anos antes dos Ramones lançarem seu primeiro álbum, o MC5, em plena décade de 60, fez história.
Seminal é pouco para descrever estes motherfuckers.

Nos shows em que o DTK/MC5 (DTK seria as iniciais dos remanescentes da banda) irá fazer em São Paulo vão vir, como convidados, o vocalista do Mudhoney, Mark Arm, a vocalista do Bellrays, Lisa Kekaula e o ex-guitarrista do Guns'n'Roses, Gilby Clarke.
Para mim, o destaque vai para Lisa, que possui uma voz fortíssima, e é a principal responsável pelos Bellrays serem o mais próximo de MC5 que se pode escutar nos dias de hoje.
Agora é assaltar algum banco para poder comprar o ingresso de R$70 para poder assistir ao show.

18 de julho de 2005

Weezermanos

Esta confirmada a vinda da banda Weezer ao Brasil. Mais precisamente para os dias 24 e 25 de Setembro deste ano, lá (ou aí) em Curitiba.
Estarei eu empolgado ? Tentarei achar a resposta nas linhas seguintes, numa auto-análise tosca.

Escutei Weezer pela primeira vez em 1994 graças a antiga MTV (aquela, que passava clipes) e o programa Lado B apresentado por Fábio Massari que tocava direto o sempre legal clipe da música Buddy Holly.
O primeiro disco deles, também conhecido como The Blue Album, não saia do meu tocador de cd. Os refrões alegres e assobiáveis não saí­ram da minha mente por um bom tempo. O segundo disco, Pinkerton, mais "complexo" que o Blue, gastou ainda mais meu tocador de cd (na época, um discman samsung ligado num stereo gradiente).

Muito tempo se passou desde então.
Depois de um longo período de inatividade, mais três álbuns foram lançados pela banda desde o Pinkerton. E a verdade é que o Green Album, o Maladroit e o recente Make Believe não me trouxeram de volta a vontade de sair assobiando como os dois primeiros.
Eu tentei, juro que tentei. Fui atrás de demos, de shows ao vivo, fiz um verdadeiro quest auditivo a fim de encontrar a música que me trouxesse de volta aquilo que senti quando ouvi No One Else pela primeira vez.

A conclusão rápida que chego é que parei de escutar Weezer faz um bom tempo, gosto apenas dos dois primeiros álbuns e que a minha camiseta com o logo da banda representa exatamente isto !
Mas o que interessa mesmo é que o show do Weezer em Curitiba vai ser um sucesso de público e que uma febre de
bandas nacionais seguiram e seguem o caminho das melodias assobiáveis deixada pela banda a mais de dez anos atrás. Bandas como Los Hermanos e Wonkavision gritam influências da banda americana em suas composições, cada um à sua maneira.
E o que menos interessa é se foi o Weezer que ficou mais chato ou se fui eu.